«O tempo está a esgotar-se», alertou sexta-feira o vice-primeiro-ministro da Irlanda, Simon Coveney, após uma reunião com o principal negociador de Bruxelas para o Brexit, Michel Barnier. Enquanto isso, vários diplomatas europeus asseguraram à BBC que estão a diminuir as hipóteses de um novo acordo para o Brexit, antes do prazo limite de 31 de outubro – falta pouco mais de um mês. Já o principal representante do Governo britânico, o secretário de Estado para o Brexit, Stephen Barclay, reconheceu que ainda estão longe de um acordo, e que está a chegar «o momento da verdade».
O que Barclay quer dizer com isso é objeto de intensa especulação. Por um lado, o Parlamento britânico proibiu uma saída não negociada da UE, algo que obriga o primeiro-ministro do Reino Unido a pedir uma extensão, caso as negociações falhem. Por outro, Boris continua firme na sua recusa – tendo chegado a dizer que preferia «estar morto numa valeta» – ao mesmo tempo que promete cumprir com a lei. Face a esta contradição, muitos debruçam-se sobre a possibilidade de Johnson tentar explorar alguma lacuna na lei – que «não é perfeita», segundo James Duddridge, o número dois de Barclay. «O Governo irá receber conselhos legais sobre este assunto», assegurou Duddridge.
‘Manha política’
Uma das hipóteses seria simplesmente Boris ignorar a lei e não fazer o pedido, como incitou Ian Duncan Smith, um antigo líder conservador. Vários juristas avisaram que nesse caso o primeiro-ministro poderia acabar na prisão, por desrespeito ao Parlamento – tornando-se um «mártir» do Brexit, salientou Duncan Smith.
Já outro antigo líder conservador, John Major – que testemunhou contra o Governo perante o Supremo Tribunal – notou que está dentro dos poderes de Boris a «manha política» de suspender temporariamente a lei. Caso isso aconteça, «ninguém deveria perdoar ou esquecer», considerou o antigo primeiro-ministro.
Outra hipótese seria Boris obedecer à letra mas não ao espírito da lei, pedindo formalmente uma extensão do Brexit – que teria de ser aprovada pelos líderes europeus – ao mesmo tempo que apelava a Bruxelas que recusasse o pedido, levando à saída automática do Reino Unido da UE. A manobra que poderia ser feita nos bastidores ou através de uma carta informal – uma hipótese que o Governo recusou tirar de cima da mesa, mesmo quando questionado pelo Parlamento.
Aliás, o Governo britânico nem precisaria do apoio de Bruxelas para conseguir que a extensão fosse chumbada, dado que todos os países-membros têm poder de veto. Boris pode muito bem pedir a algum país europeu mais alinhado com o seu Governo que rompa com o resto dos líderes europeus e vete o adiamento – apesar do custo político que desafiar Bruxelas teria.