Quando na união das mãos e consentimento no matrimónio, os noivos prometem ser fiéis, amarem-se e respeitarem-se, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias das suas vidas, não seria totalmente desadequado acrescentarem ‘mesmo com filhos’.
Os filhos são criaturas amorosas e desafiantes que nos enchem a casa e o coração de gritos e alegria, que nos fazem rejuvenescer, recordar-nos e reencontrar-nos com a nossa infância, recuperá-la, voltar a brincar, a cantar, a dançar, a ver desenhos animados, a ler histórias infantis. Todos os dias nos dizem e fazem coisas que nos põem a rir e a sorrir. Que nos fazem querer congelar o tempo para os termos assim engraçados e pequeninos para sempre a inundar a nossa vida de afeto e alegria. Mas é também sobretudo enquanto são mais pequenos que são mais exigentes e requerem a nossa atenção por vezes a tempo inteiro, estejamos acordados ou a dormir, ocupados ou não.
Um casamento só por si muitas vezes já não é tarefa fácil de manter. Cada uma das partes é um ser complexo, com as suas características próprias – os seus desejos, com as suas qualidades e defeitos – e as duas partes, muitas vezes bastante diferentes, com vontades e ideias quase opostas ou incompatíveis, conseguirem viver juntas e entenderem-se pode ser um enorme desafio. Quando há crianças à mistura o caso pode ser ainda mais bicudo.
Os filhos são necessariamente muito absorventes: solicitam a atenção dos pais sempre que estão juntos, interrompem as conversas sem grandes problemas, precisam sempre disto ou daquilo e mesmo que não peçam nada têm uma série de tarefas básicas que têm de ser satisfeitas, como alimentar, dar banho ou preparar a roupa para o dia seguinte, e ainda brincar, conversar, estar atento, mimar. Além de que tratar de uma casa com crianças é muito mais exigente do que de uma casa só com pessoas adultas.
Muitas vezes quando o dia parece ter terminado e o casal se prepara para descansar e estar um pouco a dois, há um que acorda ou outro que não consegue adormecer. Há casas – e não são assim tão poucas – em que os filhos têm o hábito de invadir a cama dos pais a meio da noite, ou pais que optam simplesmente por trocar de cama com os filhos, abdicando do seu lugar ao lado do companheiro. E mesmo quando todos dormem lindamente por vezes são os pais que estão tão exaustos que adormecem a meio de uma conversa ou mal se sentam no sofá para assistir a um filme.
Sair de casa sem os filhos muitas vezes também não é tarefa fácil, seja pela dificuldade em ter quem fique com eles ou pela idade dos mais pequenos.
Por outro lado, sobretudo as mães, muitas vezes ficam muito centradas nos filhos, nas suas necessidades, no seu amor, na relação de ambos, mesmo muito além dos primeiros tempos.
No meio desta enchente amorosa de dedicação aos mais pequenos em que momento o casal se encontra? Por vezes nem tempo têm para discordar ou discutir.
Mas tal como as plantas – a não ser as infestantes – as relações também têm de ser regadas, olhadas e cuidadas, têm de arejar, apanhar sol, para darem as flores mais bonitas, para ficarem fortes e vistosas e durarem uma vida. E só dessa forma conseguirão que os seus frutos sejam os mais doces e saudáveis.