Serena Williams errou quando quis transformar a polémica da final do US Open de 2018 com o árbitro português Carlos Ramos numa questão de sexismo.
Jogar a cartada do sexismo a toda a hora não ajuda uma causa pela qual todos temos obrigação de lutar, a da igualdade de direitos entre géneros.
Mas de vez em quando deparo-me com pessoas que não andam com bandeiras desfraldadas mas pensam os assuntos e querem agir.
Esta semana Inês Murta obteve uma importante vitória para o ténis feminino português ao passar uma ronda num torneio de 60 mil dólares em prémios.
O Angogerman Oeste Ladies Open é o mais relevante torneio de ténis feminino português desde a última edição do Estoril Open/Portugal Open de João Lagos em 2014. E é o segundo torneio de ténis mais importante do país depois do Millennium Estoril Open (MEO). Nem os Challengers ATP nacionais têm esta cotação monetária.
A algarvia veio de uma lesão num tornozelo que impediu-a de disputar na semana passada o Campeonato Nacional Absoluto.
Essa lesão só poderá ser curada no final da época, mas não a impediu de ter direito a defrontar nos oitavos de final a primeira cabeça de série do torneio das Caldas da Rainha, Kaia Kanepi, campeã do Estoril Open em 2012, antiga top-15 mundial, que atingiu por seis vezes os quartos de final em Majors.
O treinador de Inês Murta, João Antunes, do grupo de competição da Escola Manuel de Sousa no CIF, em Lisboa, dizia-me que a sua jogadora anda sempre lesionada, tendo apenas 22 anos.
Inês Murta é a n.º 2 nacional e jogadora da seleção nacional. João Antunes treina também João Domingues, o herói nacional do último Millennium Estoril Open e ainda recentemente titular na seleção nacional.
Antunes tem, por isso, parâmetros de comparação e diz-me, com razão, que algo de estranho se passa no ténis feminino português.
Maria João Koehler, uma das melhores tenistas portuguesas de sempre desistiu da carreira aos 25 anos devido a múltiplas lesões; Inês Murta de 22 anos anda sempre magoada; e há muitos casos destes.
«Nós, treinadores, temos de pensar nas cargas que andamos a dar a estas jogadoras quando ainda têm ainda o corpo em fase de formação aos 15, 16, 17 anos», disse-me.
Todos – treinadores, dirigentes, jornalistas, público – damos um tratamento indiferenciado às jogadores em casos como este em que deveria haver estudos mais específicos sobre como trabalhar com elas, e depois, brindamo-las também com um tratamento diferenciado em situações em que deveriam usufruir de direitos iguais. Aí sim, há sexismo, pois valorizamos mais as necessidades deles do que delas.