Certa vez, enquanto estava na sala de espera da urgência de obstetrícia, chegou uma senhora dos seus 60 anos e sentou-se, impaciente. Abria a mala, fechava, olhava para o relógio e mexia-se irrequieta na cadeira. Imaginei que a filha estaria no bloco de partos e que ela esperava, ansiosa, a vinda do neto. Que sensação especial que deve ser, passados tantos anos do nascimento do nosso filho, de o criarmos e o vermos crescer, um dia também ele dar à luz um pequeno rebento, que é também do nosso sangue, que não existiria se não fôssemos nós. Reencontrarmo-nos com um recém-nascido e mais uma vez sermos parte do seu crescimento, desta vez com um papel diferente.
A relação dos avós com os netos é única. Os avós, à partida, têm uma disponibilidade que os pais dificilmente conseguem ter, têm uma calma diferente, têm tempo e um enorme privilégio para ambos: não precisam de educar. Entre avós e netos há sobretudo convivência, colo, conversas e brincadeira. Há pouco ‘não podes isto, não podes aquilo, já fizeste não sei o quê’, que é a parte mais chata de ser pai ou mãe.
É característico deixarmos um filho com a avó e ele vir a cheirar ao seu perfume. Sobretudo os mais novos. É sinal de que houve muito colo, muita proximidade.
Não há relação como a de uma criança com os avós. Ainda hoje, na rua, vi um menino bem pequeno a caminhar calmamente de mão dada ao avô, sem pressa, a apreciarem o passeio e a companhia um do outro. Chega a ser emocionante a forma como estas duas fases da vida aparentemente tão distantes se entrelaçam de forma tão perfeita.
Antigamente era habitual as crianças irem para casa dos avós até entrarem para a escola, quando estavam doentes ou durante as férias. É um hábito que se foi perdendo com a entrada na escola cada vez mais cedo, com o facto de os avós, muitas vezes, ainda estarem no ativo ou muito ativos e com a falsa ideia dos pais de que as crianças em casa se tornam antissociais e que estão a perder uma série de aprendizagens que teriam na escola.
Além disso, muitos pais não gostam da ideia dos avós ‘estragarem’ os filhos permitindo-lhes o que em casa está na lista das restrições. Mas o papel que os avós têm no crescimento de um neto é muito mais importante do que tudo isto. Lembro-me bem da minha avó (e da minha tia-avó), de tudo o que foi e representou para nós. Do seu altruísmo, da sua bondade, de dar sem esperar nada em troca, do que me ensinou, do seu afeto, do seu carinho. Das histórias que me contava, dos bolos que eu ajudava a fazer ou a comer, das conversas que tínhamos, do seu sorriso terno, da sua mão macia. Nada teria sido mais importante no meu crescimento do que todos estes valores que me transmitiu, este amor intenso que vivemos.
Os avós são isso. São amor. A prioridade não são as regras, são as trocas de afeto, são os bons momentos. As crianças aprenderão com facilidade que a casa dos avós e a sua são diferentes. Há coisas que podem fazer num lado que não podem no outro, e isso não tem influência na sua educação, no respeito que têm por ambos ou do que sentem por eles. O papel dos avós é um papel precioso e fulcral no desenvolvimento dos mais pequenos.
Por mim, só posso agradecer à minha avó e aos avós dos meus filhos. Sem eles, não cresceríamos da mesma forma, e este fim de semana em particular, o meu marido, o bebé pequeno e eu não poderíamos ter tirado uma revigorante e já merecida folga.