Tejo só voltará ao normal com chuvas fortes

O rio Tejo está com níveis muito baixos de água e há zonas com apenas um palmo. Ambientalistas dizem ao SOL que situação só se resolve se chover bastante nos próximos tempos.

Há perto de uma semana e meia o movimento proTejo denunciava o incumprimento da Convenção de Albufeira no último ano hidrológico, informação que foi contrariada pelo Ministério do Ambiente. O reduzido caudal do rio Tejo tem vindo a criar transtornos em várias zonas do país, com afluentes do rio, como o Pônsul e o Sever, a encontrarem-se praticamente secos. Agora, os ambientalistas dizem que a única solução para este problema é que a meteorologia ajude e chova bastante. Ainda assim, a autarquia de Mação teme implicações futuras.

Paulo Constantino, porta-voz do movimento proTejo, confirmou ao SOL que têm estado a receber queixas atrás de queixas. «Os problemas não vão desaparecer de um dia para o outro, é muita água para repor até chegar aos níveis normais», aponta. 

Segundo o porta-voz deste movimento de defesa do rio Tejo, «a situação tem várias implicações para com os ecossistemas, para com os animais, a flora, a vegetação, a tudo no fundo». «São vários os negócios que estão a sair prejudicados com estes impactes negativos», acrescenta.

Quanto à solução para que se consiga um aumento dos caudais, Paulo Constantino não tem dúvidas: «Neste momento ou Cedillo recebe alguma água de Alcântara, para repor um pouco os níveis médios das águas, ou nada vai mudar. A questão é que se isso fosse para acontecer já o teriam feito. Sendo assim, enquanto não houver muita chuva, não vai mudar nada».

O ambientalista confirmou ainda que o movimento terá uma reunião com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) – organismo tutelado pelo Ministério do Ambiente – esta segunda-feira, por forma a chegar a conclusões e a entendimentos sobre se Espanha cumpriu ou não os caudais mínimos estabelecidos na Convenção de Albufeira.

Guardião do Tejo acusa APA
Arlindo Consolado Marques, também conhecido como Guardião do Tejo, surge frequentemente ligado a assuntos que implicam a proteção ambiental do principal rio ibérico. Inclusivamente na sua página de Facebook relata constantemente várias situações relacionadas com o rio, tendo nos últimos tempos partilhado vídeos e fotos que demonstram o estado atual e algumas das implicações que têm surgido com a redução do caudal.

Ao SOL, Arlindo Marques afirma: «A Agência Portuguesa do Ambiente falhou, o Governo português falhou». «Em 2017 houve muito menos água que este ano, portanto a história que eles falam de haver seca não é aceitável. Alguém errou e agora não quer assumir o erro, porque isto nunca devia ter acontecido. Todo o ecossistema que foi criado dentro do rio Pônsul e do rio Sever sofreu e há ainda o prejuízo para todas as atividades económicas», defende. 

O Guardião do Tejo considera que Espanha não cumpriu os caudais mínimos estabelecidos na Convenção de Albufeira entre os dois países da Península Ibérica e que «a desculpa de que foi tudo para cumprir os caudais mínimos da Convenção de Albufeira não cola, uma vez que ninguém obrigou os espanhóis a enviarem aquela quantidade de água toda de uma vez. Isto para ser bem feito tinha que se lançar a água de outra forma, algo que a APA devia ter gerido».
O agora parceiro de circunstância do movimento proTejo conta que recebeu várias fotos de pessoas a relatar a situação do Tejo e que, juntamente com o movimento, chegou mesmo a visitar o rio Pônsul, localizado no concelho de Castelo Branco e um dos mais afetados por esta situação – encontra-se praticamente sem água e com barcos atracados no fundo do rio. 

«Neste momento só há uma solução para esta situação, que é chover mesmo muito. Não é o que tem chovido nos últimos dias, é chover mesmo muito e durante aí um mês, para que se encha a barragem de Alcântara e, consequentemente, encham a barragem de Cedillo. Só assim rios como o Sever e o Pônsul poderão voltar à normalidade», conclui Arlindo Marques, em concordância com a proTejo.

Câmara de Mação preocupada Vasco Estrela, presidente da Câmara Municipal de Mação confessou ao SOL que, «de momento», a autarquia ainda não tem noção do «impacto negativo proveniente desta situação do rio Tejo». No entanto, mostra algum receio para com prejuízos a médio e longo prazo.

O autarca diz que na zona de Mação o caudal do rio tem seguido uma grande inconstância, com oscilações ao longo dia. Contudo, considera que «tem de acreditar que a Convenção foi cumprida se a APA o diz».

Mação tem mais de 14 quilómetros de margem de rio, sendo a atividade ligada ao Tejo uma peça fundamental no dinamismo deste concelho do distrito de Santarém. Vasco Estrela explica que há «problemas na pesca, problemas ambientais, dificuldade em manter em boas condições a praia e investimentos futuros da autarquia que dependem muito do caudal do rio». 

O autarca partilha com Arlindo Marques e Paulo Constantino a preocupação quanto à meteorologia: «Se não chover abundantemente e os problemas com Espanha se mantiverem, o concelho de Mação – tal como todos os outros – pode ser muito prejudicado».

O SOL contactou, sem sucesso, a Agência Portuguesa do Ambiente.