Nas últimas semanas tem-se enfatizado o facto de o Masters 1000 de Xangai ter apresentado quatro semifinalistas com 23 anos ou menos: o russo Daniil Medvedev, o alemão Sascha Zverev, o grego Stefanos Tstitsipas e o italiano Matteo Berrettini.
Os sucessos de Tstitsipas sobre Novak Djokovic (31 anos) e de Zverev sobre Roger Federer (38) foram considerados como um momento de viragem na história do ténis mundial, como um símbolo da passagem de testemunho geracional.
Julgo ser algo precipitada a conclusão de que o domínio do Big-3 (ou Big-4 com Andy Murray ou Big-5 com Stan Wawrinka) chegou ao fim.
Numa altura em que falta apenas disputar um dos Masters 1000 podemos olhar para 2019 e verificar que três jogadores que não Federer, Nadal ou Djokovic venceram quatro dos oito torneios já disputados e integrados nesta categoria máxima do ATP Tour: Dominic Thiem em Indian Wells, Fabio Fognini em Monte Carlo, e Daniil Medvedev em Cincinnati e agora mais recentemente em Xangai.
De resto, Federer impôs-se em Miami, Djokovic em Madrid, e Nadal em Roma e no Open do Canadá.
Mas, se virmos bem, nada disto é novo. Há nove torneios Masters 1000 por ano e em 2018 quatro foram ganhos por não-membros do Big-3: Juan Martin del Potro, John Isner, Sascha Zverev e Karen Khachanov.
Então será uma coisa de dois anos? Também não. Em 2017 foram três em quatro torneios: dois títulos para Zverev e outros para Grigor Dimitrov e Jack Sock.
Mesmo em 2016, quando Andy Murray ainda não se tinha lesionado, estava no topo da sua forma e foi n.º 1 mundial, Marin Cilic foi capaz de meter-se no meio do Big-4 e triunfar em Cincinnati.
Ou seja, na realidade, épocas inteiras em que todos os Masters 1000 tenham sido ganhos pelo Big-4 só houve três: 2011, 2013 e 2015.
No período compreendido entre 2009 e 2019 houve 14 jogadores não membros do Big-4 que levantaram troféus de Masters 1000.
Mas durante esse mesmo tempo, em torneios do Grand Slam, só houve três jogadores capazes de ‘roubar’ títulos aos Big-4: del Potro no US Open de 2009, Marin Cilic no US Open de 2014, e Stan Wawrinka no Open da Austrália de 2014, Roland Garros 2015 e US Open 2016.
Nas épocas de 2017, 2018 e 2019 os Majors foram todos açambarcados por Federer, Nadal e Djokovic. O domínio acentuou-se ainda mais.
E este ano só Thiem em Paris e Medvedev em Nova Iorque conseguiram meter-se na final, já que em Melbourne e Londres o Big-3 decidiu os títulos entre si.
Voltarei ao tema para a semana para avançar com algumas explicações para este fenómeno e tentar vislumbrar 2020.