A sessão de ontem do julgamento de Rosa Grilo e do seu amante – acusados de matar o triatleta Luís Grilo – trouxe algumas surpresas. Ainda da parte da manhã, a ex-mulher de Luís Grilo irritou-se com as explicações do coordenador da Polícia Judiciária, o que lhe valeu um alerta da juíza Ana Clara Baptista. A arguida chegou mesmo a rebater os argumentos da investigação. Mas o momento mais inesperado aconteceu na parte da tarde, quando uma outra testemunha, um perito da Polícia Judiciária, afirmou que a arma alegadamente usada fora manipulada química e fisicamente após o último disparo, impossibilitando que se tenha certezas absolutas de que o projétil encontrado no corpo de Luís Grilo fora disparado com recurso àquela arma de António Joaquim, o funcionário judicial que mantinha uma relação extraconjugal com Rosa Grilo.
Segundo o especialista, a parte externa da arma estava boa, mas a interna, nomeadamente o cano, não estava, o que indica que foi usada uma lixívia forte. Além disso, referiu, foram detetadas ranhuras, que podem ter sido feitas com ferramentas.
A convicção da investigação é de que o revólver foi manipulado para não se conseguir determinar ao certo que o projétil encontrado foi disparado por aquela arma.
O perito de balística reforçou ainda que apesar de ter muitos anos de experiência, nunca tinha assistido a algo do género, exemplificando que nem armas que estiveram muitos anos debaixo de água apresentam um grau de oxidação tão elevado.
Por todos estes constrangimentos, adiantou ainda, não é possível garantir a 100% que aquela foi a arma utilizada.
O depoimento causou alguma surpresa na sala, tendo inclusivamente a defesa de António Joaquim lançado duras críticas à investigação no final da sessão.
“Não há dúvidas de que os procedimentos não foram os corretos”, disse o advogado Ricardo Serrano Vieira, adiantando: “Se é verdade isso [a manipulação química e física], pergunto como é que terá sido possível recolher amostras de ADN”.
A defesa deste suspeito do homicídio do triatleta concluiu dizendo aos jornalistas que estas convicções da investigação não passam de uma teoria como outra qualquer: “Isso não foi trazido para o processo em momento nenhum, é uma teoria como outra qualquer”.
As antenas e Rosa Grilo Quando, na parte da manhã, foram colocadas questões ao coordenador da PJ sobre a frequência dos contactos entre Rosa Grilo e o amante tanto ao fim de semana como durante a semana (foram quase inexistentes nos fins de semana anteriores ao crime, que aconteceu a 1 de julho de 2018), houve alguma tensão na sala – tensão que aumentou quando o investigador explicou que concluiu que os filhos de António Joaquim não estiveram com ele no fim de semana do crime, com base nas declarações do arguido e numa antena ativada pelo telemóvel de um dos filhos – algo contestado pela defesa.
Com o evoluir dos depoimentos, a juíza alertou Rosa Grilo para o seu comportamento e a arguida pediu para falar – o que não tem sido hábito. Rosa Grilo começou por dizer que eram interessantes “as convicções” da testemunha, adiantando que só estava a elencar aspetos e conclusões “que lhes [davam] jeito”. Justificou ainda que era uma situação normal que os seus contactos com António Joaquim não tivessem sempre a mesma frequência, e que aos fins de semana “só [falavam] às vezes”.