Numa manobra invulgar e em resposta ao protesto massivo da passada sexta-feira, que juntou um milhão de pessoas nas ruas de Santiago a exigir mudanças políticas e económicas no país, o Presidente do Chile, Sebastián Piñera, demitiu todos os ministros do seu Governo.
“Pedi a todos ministros para demitirem-se com o fim de formar um novo Governo e para ser capaz de responder a estas novas exigências”, anunciou Rivera este sábado num discurso televisivo direcionado à nação. “Estamos numa nova realidade”, continuou. “O Chile está diferente daquilo que era uma semana atrás”.
Há pouco menos de uma semana, irrompeu uma onda de indignação espontânea contra a subida dos preços dos bilhetes de metro, que rapidamente se transformou num protesto global contra a desigualdade económica prevalecente no país.
Para controlar a indignação dos chilenos, o Governo atuou com mão de ferro. Desde 14 de outubro, morreram pelo menos 17 pessoas e mais de 7 mil manifestantes foram detidos. Além disso, o Executivo declarou o estado de sítio, impôs o recolher obrigatório, que agora Piñera admite retirar, e pôs os militares a controlar as ruas – 20 mil só em Santiago, capital do Chile, onde lançaram gás lacrimogéneo e usaram canhões de água para dispersar os manifestantes.
As forças de segurança têm sido acusadas de utilizar força excessiva para controlar os protestos. As Nações Unidas, inclusive, enviaram uma equipa para investigar as alegações de abuso policial.
Piñera anunciou na semana passada um pacote de reformas para combater as desigualdades económicas. Mas isso não foi o suficiente para acalmar os manifestantes. Em declarações à AFP, o professor de biologia Eric Silva disse que Piñera irá remodelar o seu Governo porque se sente “preso”. “Será útil, mas não resolverá os problemas”.
Nos últimos dias surgiu uma nova exigência dos manifestantes: rasgar e substituir a Constituição, que data da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).