É provável que já tenha notado um aumento do número de agentes da PSP no supermercado que costuma frequentar. Ainda que nem todas as empresas falem sobre o assunto, algumas têm optado por aumentar o número de gratificados nos últimos tempos. Ao SOL, o Lidl diz que o reforço de gratificados se trata de uma medida de prevenção, enquanto o Pingo Doce prefere não avançar números. Por outro lado, o Auchan garante que apenas utiliza seguranças privados.
Contactadas as principais superfícies comerciais em Portugal, verificou-se que não é possível traçar ao certo a evolução do número de gratificados nas lojas.
O Lidl é o mais claro nas suas respostas, ao confirmar que «tem aumentado não só o número de gratificados, mas também de seguranças privados, embora não [registe] um aumento de incidentes em loja». O objetivo da empresa passa por «prezar, acima de tudo, pela segurança dos seus colaboradores e clientes».
A cadeia de supermercados originária da Alemanha vai ainda mais longe na explicação da sua estratégia: «A preferência que temos vindo a dar a zonas mais citadinas e de maior concentração populacional para a abertura de lojas, assim como a ocorrência de fenómenos sociais leva-nos a reforçar a vigilância». No entanto, o Lidl esclarece que este reforço de segurança aconteceu em todo o país e não apenas em certas zonas que possam ser consideradas problemáticas.
Já o Pingo Doce não especificou números, nem qual a predominância, dizendo apenas que «recorre, na área da segurança, tanto a polícias como a seguranças privados».
Auchan aposta em ‘polícia robô’ para prevenir pequenos furtos
Já o grupo Auchan (mais conhecida pelas marcas Jumbo e Pão de Açúcar) afirma que nas suas «superfícies comerciais a operação é garantida pela Segurança Auchan em regime de autoproteção». Explica ainda que apenas recorrem «a gratificados em situações esporádicas e de exceção» e que está neste momento a desenvolver um projeto «com um robô móvel, que permitirá executar de forma autónoma missões de patrulhamento e vigilância e que se destina a ser instalado em espaços de grande dimensão de acesso público».
Quanto aos tipos de crimes registados, o grupo Auchan refere que a maioria se trata de furtos simples e que vai recorrer à inteligência artificial nas suas lojas, no que respeita aos sistemas de segurança. «Estes sistemas conseguem detetar potenciais ameaças e gerar alarmes, mesmo sem a presença humana», explica.
Questionados pelo SOL, o Minipreço e o Continente não enviaram qualquer resposta.
Contactada pelo SOL, a PSP esclareceu que não tem dados oficiais do número de agentes que são contratados pelos supermercados, recordando e que este «tipo de serviço renumerado é requisitado nos termos da lei»: «A PSP não tem discriminados, nem sistematizados, os dados das entidades que os requisitam e a quem são concedidos».
Acrescentou ainda a mesma fonte que estes serviços são «solicitados por órgãos e entidades públicas e privadas, após autorização do Comandante local». «Estes pedidos de serviço remunerados são, a nível nacional, em número variável, dado que, se por um lado existem alguns serviços regulares e continuados no tempo, por outro existem serviços que são localizados no tempo e com prazos definidos», explica.
Tendo em conta esta variabilidade, a PSP acrescenta que não é possível indicar a quantidade de gratificados que diariamente estão em supermercados a nível nacional. Estes pedidos regem-se pela Portaria n.º 298/2016, de 29 de novembro, que define que «os períodos normais são de 4 horas por turno».
Apesar de não conseguir avançar números relativamente aos gratificados nas superfícies comerciais, a PSP refere que, nesses casos, «as principais razões para os pedidos prendem-se com a tentativa de evitar alterações da ordem pública/desordens e também evitar/diminuir as incidências criminais, normalmente furtos».
A PSP concluiu, referindo que têm «como missão principal a garantia da ordem, segurança e tranquilidade públicas bem como a prevenção da criminalidade, em geral, e a criminalidade organizada e o terrorismo, em particular».
Sindicatos falam de pareceres de segurança mais rigorosos
Pedro Carmo, presidente da Organização Sindical dos Polícias (OSP), explica ao ao SOL que «de há uns tempos para cá quando as entidades pedem policiamento têm de haver um parecer de segurança com base nas informações cruciais». «Essas informações cruciais vão fazer com que o parecer de segurança adeque o policiamento ao tipo de risco existente», acrescenta.
No entanto, o sindicalista considera que no início esse parecer de segurança não era muito levado a sério e que «neste momento está a ser mais rigoroso, porque realmente se está a ter mais em conta, principalmente ao nível de eventos desportivos e culturais, o nível de risco das coisas».
Segundo Pedro Carmo, «o que está em causa é que os níveis de segurança já estão a ser controlados de outra forma». «Obviamente ainda há falhas e imprevistos, mas agora está a ter-se mais em conta a segurança dos locais, obrigando mesmo as entidades a pedir mais polícias», refere.
O presidente da OSP afirma que não tem noção se houve de facto um aumento efetivo do policiamento nos supermercados, uma vez que está dependente de muitas oscilações e que depende do número de eventos a serem realizados, bem como das zonas em questão. Contudo, considera normal que as superfícies comerciais apostem mais no trabalho dos gratificados em vez do dos seguranças privados. «O segurança privado tem uma função muito limitada, porque só pode fazer interiores e não pode fazer qualquer trabalho no exterior. Para além disso não vai entrar em conflitos e por isso se calhar é mais fácil apostar na polícia. Um polícia faz as duas coisas, não só a vigilância, que é o que um segurança faz, como a segurança pública», conclui.