Esta semana muitos ficaram chocados com o caso do professor que agrediu física e verbalmente um aluno numa escola em Lisboa. Um adulto, ainda mais um professor, tem o dever moral de saber cuidar dos mais novos, de ter auto-controlo, até de ser um exemplo e incutir bons valores. Ou seja, o que aconteceu é grave e indesculpável. Mas importa também saber em que circunstâncias tudo se passou. Pelo relato dos colegas da vítima, percebe-se rapidamente que a turma estava a ter um comportamento desafiador, pouco respeitador, abusador e a quebrar regras. Sabemos bem que esta é a tendência natural de muitos adolescentes de 14 anos, mas não podemos achar normal, nem deixar que os jovens achem que o seja, ainda mais dentro de uma sala de aula. Se por um lado a atitude do professor é indesculpável, a dos alunos também não é exemplar.
Considero louvável alguém querer ser professor do 3.º ciclo, ter a ambição de fazer parte do percurso escolar dos jovens, de ensinar matérias que considera importantes, arranjar estratégias para o fazer da melhor forma e correr o risco de enfrentar todos os dias um enorme grupo numa idade em que é bem visto desafiar e até humilhar os adultos. Ser professor é cada vez mais uma prova de fogo que passa por conseguir estabelecer uma relação próxima e empática, ao mesmo tempo que não se pode ser demasiado permissivo, e tem de se impor regras, limites e tornar as aulas cativantes. Em algumas situações os professores devem sentir que estão a domar um touro, ou uma arena inteira ao mesmo tempo, e ainda têm de ensinar qualquer coisa.
Um dos problemas é os alunos sentirem que vão à escola por obrigação ou para fazer um favor aos pais. Estando contrariados, o professor à sua frente acaba por ser a presa fácil na qual projetam as suas frustrações e a sua rebelião.
Não é fácil ser professor de adolescentes – e isso nem é uma coisa de agora. Lembro-me de há quase 30 anos, num dos mais conceituados e cobiçados liceus de Lisboa, miúdos de 12 anos atirarem cadeiras pela janela nas salas de aula, espalharem arroz e tinta da china pelo chão e esgotarem e massacrarem os professores com imbecilidades para se exibirem perante os outros. Mas estes alunos também eram exemplarmente repreendidos e, apesar de tudo, havia uma ingenuidade diferente e não me lembro de haver agressões, muito menos aos mais velhos, como acontece agora recorrentemente. A PSP recebe cinco queixas de desacatos nas escolas por dia – entre alunos e professores, mas também entre pais e professores e mesmo entre pais. Estes têm cada vez menos tempo para estar e educar os filhos, que por sua vez se veem cada vez mais entregues a aparelhos digitais, ou seja, a si próprios. Em paralelo, parece haver medo de permitir que as crianças se sintam frustradas ou de impor regras e limites.
Independentemente de os professores serem melhores ou piores, as matérias mais ou menos interessantes, o respeito e a educação têm de se manter. Muitas das escolas de hoje estão longe de ser as ideais e estão pouco adaptadas aos tempos que correm, mas parece haver uma impunidade que permite aos mais novos fazer tudo sem castigo. Os pais têm de perceber que desde pequenos os filhos têm de ter regras e limites e as escolas têm de seguir a mesma linha. De outra forma esta instituição começa a transformar-se numa batalha campal, em que aprender é o que menos importa.