Brexit. Reino Unido quer resolver impasse com eleições antes do Natal

As sondagens dão ao primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, uma vantagem de mais de 10% sobre os trabalhistas de Jeremy Corbyn.   

Após a União Europeia adiar mais uma vez o prazo de saída do Reino Unido, não é desta que se sabe se os britânicos ficam ou saem da união – e em que condições. Agora, todas as atenções passaram de 31 de outubro para 12 de dezembro, quando o Reino Unido irá a eleições gerais antecipadas – e onde o tema incontornável será sem dúvida o Brexit. A decisão foi aprovada por uma maioria estrondosa, com 438 deputados a favor e 20 contra. 

Perante o impasse, há muito que o Governo britânico falava num “Parlamento zombie”, incapaz de aprovar um acordo de saída da UE – exigindo eleições gerais, para eleger um novo Parlamento. Agora, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson conseguiu o que pretendia, após o líder trabalhista, Jeremy Corbyn, apoiar eleições antecipadas, no seguimento da concessão de uma extensão longa pela UE. “A nossa condição de tirar uma saída não negociada de cima da mesa foi cumprida”, afirmou Corbyn, citado pelo Guardian. E prometeu: “Vamos lançar a campanha mais ambiciosa e radical para transformações reais que o nosso país já viu”.

De facto, a campanha de Corbyn terá de ser ambiciosa, pois parte para as eleições em desvantagem. As sondagens mostram um crescimento das intenções de voto nos conservadores desde que Johnson tomou as rédeas do partido – o Politico dá 37% aos conservadores, contra os 24% dos trabalhistas. Algo que tem alimentado a retórica de Johnson, de que os trabalhistas têm medo de ir a eleições. E não ajuda o facto de liberais democratas e nacionalistas escoceses se terem antecipado a Corbyn e apoiarem eleições antecipadas. “Os cães ladram, as vacas fazem muu, e as oposições são feitas para fazer campanha”, troçou ontem o primeiro-ministro.

 

Divisões internas

Importa notar que tanto os conservadores como os trabalhistas vão a eleições com o partido divido por causa do Brexit. Nos conservadores, essa divisão tornou-se ainda mais clara quando Johnson expulsou 21 deputados do seu grupo parlamentar, por votarem contra uma saída não-negociada. Agora, quando parecia certo que poderia precisar do seu apoio para apelar ao eleitorado mais moderado, Johnson decidiu sarar as feridas e aceitou de volta dez dos deputados expulsos.

Já as divisões dos trabalhistas parecem bem mais difíceis de resolver. Por um lado, Corbyn defende um acordo de saída que proteja os direitos laborais e a defesa do ambiente, e que depois vá a referendo. Por outro, boa parte dos militantes e deputados trabalhistas é visceralmente oposta ao Brexit – e quer simplesmente a sua revogação.  

 

Uma maioria simples

Após os deputados britânicos recusarem três vezes eleições antecipadas, à quarta foi de vez. Ainda esta segunda-feira a proposta de eleições antecipadas foi chumbada, com o Governo britânico a conseguir apenas 299 votos a favor, bem longe da maioria de dois terços de que precisava – ou seja 434 deputados.

Contudo, ontem Johnson não precisou de tanto. Apostou num plano B, fazer da convocatória para eleições um projeto-lei, que requer apenas uma maioria simples para ser aprovado – algo garantido com o apoio do Partido Trabalhista. Já os Liberais Democratas – o segundo partido da oposição, com 17% das intenções de voto – apoiaram as eleições, exigindo contundo que estas fossem dia 9 de dezembro em vez de 12, para serem antes das férias de inverno dos universitários – um dos setores demográficos onde o partido é mais forte. A emenda para tal acabou por ser proposta pelos trabalhistas, mas chumbada com 315 votos contra e 295 a favor.