No dia em que o Reino Unido deveria sair da União Europeia, 31 de outubro, os britânicos assistiram em vez disso ao início de uma campanha eleitoral, para as eleições de 12 de dezembro. O objetivo é resolver de uma vez por todas o impasse do Brexit, que se arrasta há mais de três anos. Tanto o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, como o líder da oposição, Jeremy Corbyn, se mostram seguros de conseguir uma vitória que lhes permita levar a cabo a saída da UE à sua maneira – mas não será uma tarefa fácil para nenhum deles.
Se alguns questionam porque vai o Reino Unido a eleições a meio de dezembro pela primeira vez desde 1923 – os fortes nevões típicos desta altura e o pôr-do-sol antes das 16h podem afetar a taxa de abstenção –, a resposta é a nova data limite do Brexit, marcada para 31 de janeiro.
Muitos outros questionam porque só vão a eleições agora. Foram mais de dois anos de um Governo minoritário, desde a desastrosa tentativa da antecessora de Johnson, Theresa May, de conseguir deputados suficientes para aprovar o seu acordo de saída da UE no Parlamento britânico. May acabou com menos 13 deputados do que quando começou, quando partiu para as eleições com as sondagens a darem-lhe uma vantagem de mais de 20% sobre os trabalhistas de Corbyn – o resultado final foi 42% dos votos para os conservadores e 40% para os trabalhistas.
Agora, os conservadores partem em vantagem outra vez, desta vez com mais 13% que as intenções de voto nos trabalhistas, segundo o Politico. Mas Corbyn promete fazer o mesmo que fez em 2017: uma campanha «pelos muitos, não pelos poucos», exigindo mais investimento público em áreas como a saúde e a educação, bem como o aumento das pensões e dos direitos laborais – acusando os conservadores de «apenas se preocuparem com uns poucos privilegiados».
Contudo, para além da sua vantagem nas sondagens, Johnson parte para a campanha com a vantagem de ter uma posição clara sobre o principal assunto em discussão: quer «concretizar o Brexit» a todo o custo. Já o líder trabalhista carrega o peso de um partido extremamente dividido, polarizado entre defensores de uma saída negociada – que proteja direitos laborais e questões ambientais – e opositores de uma saída da UE.
Até agora, Corbyn tem tentado equilibrar ambas as posições, querendo negociar um novo acordo de saída com Bruxelas que depois seja aprovado num referendo – onde os trabalhistas prometem ser neutrais. A contradição arrisca não agradar a ninguém, nem aos 52% dos eleitores que em 2016 votaram ‘sim’ no referendo do Brexit, nem aos 48% que votaram ‘não’. Estes últimos poderão muito bem optar por votar nos liberais democratas, que estão com 17% das intenções de voto e se mostram inequivocamente contra a saída da UE.