Esta semana João Sousa foi ao Museu dos Coches conversar com cerca de duzentas jovens ao abrigo do programa ‘Desportistas no Palácio de Belém’, uma iniciativa do Presidente da República.
A adesão do melhor tenista português de sempre não surpreendeu, pois o vimaranense costuma dedicar parte do seu tempo livre a causas sociais.
Lembro-me de duas que me sensibilizaram: a doação de material desportivo e a confraternização com crianças de um clube de ténis em Cabo Verde e a visita ao serviço de Pediatria do Hospital Senhora da Oliveira, em Guimarães.
João Sousa não é o único. Ainda no fim de semana passado Gastão Elias esteve com uma centena de crianças de 35 clubes de todo o país na Jornada Nacional do Programa Nacional de Deteção de Talentos da Federação Portuguesa de Ténis, no Estádio Nacional.
Em Portugal (e não só, parece ser uma característica nos países latinos) os media tendem a divulgar pouco a essência destas ações.
Nas notícias sobre João Sousa e o Presidente, apesar das referências ao local e à iniciativa, o destaque foi para declarações do jogador sobre o ranking mundial e os Jogos Olímpicos que poderiam ter sido proferidas em qualquer outro contexto.
Deu-se também saliência ao fait-divers – divertido e relevante, sem dúvida – da recordação de Marcelo Rebelo de Sousa do momento em que soube da vitória de João Sousa no Millennium Estoril Open e da posterior celebração nos balneários.
Pode ter havido, mas não encontrei menções concretas às perguntas das crianças, à sua reação ao tenista, à importância que deram à sua visita, se gostam de desporto, etc.
Temos um traço comunitário de que a caridade, a solidariedade social faz-se com recato, sem espalhafato. Ninguém tem de saber que damos, que contribuímos, fica mal que pensem que poderemos ter algum retorno para as nossas vidas por ajudarmos os outros.
Nos países anglo-saxónicos encontro uma cultura diferente. Os media ajudam a passar a palavra. Os bons exemplos de filantropia e mecenato são acarinhados com notícias sobre o impacto positivo nas vidas dos beneficiários.
É curioso que sejam os mesmos meios mediáticos em que prolifera o jornalismo tabloide, da hiperbolização da desgraça e do insólito, aqueles que mais apoiam os gestos da grandiosidade humana.
Noticiar o que há de bom e de positivo em nós – fala-se mais do mau génio de João Sousa no court do que da sua generosidade fora dele – cria um efeito de bola de neve, capta mais contribuições, diminui a dependência constante do Estado e faz sentirmo-nos melhor como comunidade.