O Sínodo da Amazónia que, segundo o Papa Francisco, na semana passada escutou o «clamor dos pobres», teve objetivamente quatro resultados:
1. Legitimou a ‘Teologia Indigenista’, novo nome da ‘Teologia da Libertação’, uma criação soviética, para instrumentalizar a Igreja Católica na divulgação do marxismo-leninismo na América Latina, no âmbito da Guerra-Fria, criticada pelo Papa João Paulo II;
2. Legitimou a ‘ideologia de género’ e a agenda dos teólogos alemães (como o cardeal Kasper da ‘gloriosa faculdade teológica de Tübingen’) a favor da ordenação de mulheres como diáconos, sustentando-se que «é urgente que a Igreja promova e confira na Amazónia ministérios para homens e mulheres de maneira equitativa» e o reconhecimento de padres casados.
3. Legitimou a apostasia do reconhecimento do animismo índio (a «irmã Natureza» como lhe chamou o Papa) como compatível com o Evangelho, esquecendo a doutrina dos missionários e apostando na criação de um novo ‘rito amazónico’, que «reflita a espiritualidade, as culturas e as necessidades únicas dos fiéis daquela região», numa nova cisão com o ‘rito latino’; e
4. Legitimou um discurso de autodeterminação e independência das tribos indígenas (um total de apenas 230 mil almas, num universo de 25 milhões de habitantes nos nove Estados da Amazónia) reavivando a nossa memória da traição dos Jesuítas, expulsos de Portugal pelo Marquês de Pombal, por defenderam a Independência de Mato-Grosso, na Amazónia, apropriando-se das suas riquezas naturais e por ameaçarem a unidade política do Brasil.
Os mais de 180 bispos da Amazónia subscreveram na semana passada, no Vaticano, uma agenda dos Jesuítas com mais de 300 anos, confundindo-a com uma alegada reatualização da doutrina social e da estratégia geopolítica da Igreja, ‘misericordiosa’ e igualmente mais permissiva em matéria de comportamentos e mais contemporânea em questões de conservação da natureza.
Só que, seguindo a ideologia dominante de algumas ONGs e sem evidências científicas – chegando o documento final do Sínodo a fazer afirmações falsas, como por exemplo, sobre o papel da Amazónia na humidade do subcontinente Sul Americano, para afirmar a necessidade de «proteção da floresta amazónica» contra o desmatamento e os incêndios (como se fosse possível incêndios em florestas com 100% de humidade!) – o Vaticano confunde as naturais «alterações climáticas» com a necessidade de «conservação do planeta», onde todos vivemos e que temos a obrigação de proteger, como «casa comum natural». O Sínodo fala no «aquecimento global» com o fervor com que nos anos 70 do século passado se falava do «arrefecimento do planeta» ou de uma mini-Era Glaciar em 2030 – quase como dogma da Igreja.
Uma agenda anticapitalista («progresso predatório», como disse o Papa) na Igreja não é novidade, se pensarmos que os primeiros sindicatos eram católicos e que, desde o século XIX, na defesa do Antigo Regime e da sua ligação discursiva entre Religião e Política, a Doutrina Social da Igreja – na Rerum Novarum – ficou agarrada ao corporativismo alternativo à economia de mercado, uma narrativa contra a ideologia da burguesia triunfante e do Estado Moderno que privilegiou a Economia no discurso político, bem como contra a Revolução Industrial, que arruinou a economia dos Mosteiros – as multinacionais do seu tempo – que constituíam a rede institucional da economia agrária do apogeu da Idade Média católica na Europa.
A perplexidade diante da agenda do Vaticano não nos deve, contudo, evitar uma reflexão sobre os discursos ideológicos dominantes que caracterizam esta fase de saturação liberal e desamor, em que a economia e o seu crescimento ainda são os discursos dominantes da política, embora estando a ser fortemente contestados pelos jovens de Santiago do Chile a Barcelona, de Hong-Kong a Paris.
Parece evidente o mal-estar e o emergir de narrativas disruptivas que substituem hoje, na Política, a questão do crescimento económico e que são, nesta ‘sociedade de abundância’ – onde a tecnologia e a distribuição equitativa dos recursos (questão de Justiça Social e não de Economia) facilmente resolverão o problema da sobrevivência de todos ou de um rendimento universal garantido – mais atrativas ao eleitorado dos jovens ‘milenares’ emergentes e onde ancorará certamente o discurso ideológico das próximas décadas.
Apesar dos erros científicos e dogmáticos e do oportunismo político típico da agenda dos Jesuítas, se servir para este alerta de ‘conservação do planeta’ e de justiça social, introduzindo, da direita à esquerda, uma narrativa ideológica conservacionista e mais sustentável no discurso dos partidos políticos, então a iniciativa do Sínodo da Amazónia do Papa Francisco – como, aliás, a de António Guterres, na ONU, sobre o clima – acaba por ser oportuna e o sacrifício da ortodoxia da Igreja e da verdade da Ciência estarão justificados: chegou a hora de tratarmos do nosso planeta!