O bebé que na última terça-feira foi encontrado dentro de um caixote do lixo, na zona de Santa Apolónia, está ainda nos cuidados intensivos pediátricos do Hospital D. Estefânia, mas bem de saúde. Ao que o i apurou, a criança, que está sob a tutela da unidade hospitalar (mais tarde será entregue a uma instituição), ainda não tem nome. Segundo fonte hospitalar, quando foi encontrado, o recém-nascido estava desnutrido e sem qualquer roupa a cobrir o corpo.
O alerta foi dado pelas 18h30, quando um homem que passava junto à discoteca Lux ouviu gemidos vindos do ecoponto, nomeadamente do caixote do plástico. Quando se aproximou para perceber de que se tratava viu o pé de uma criança e decidiu partir a abertura onde se coloca o lixo para poder entrar dentro do contentor.
“Quando entrei, confirmei que era uma criança”, disse ontem aos jornalistas. Segundo a descrição feita, o recém-nascido estava ainda com restos do cordão umbilical e roxo de frio.
Depois de encontrar a criança, o homem, um sem-abrigo que pernoita ali perto, terá começado aos gritos e foi uma outra pessoa que acabou por fazer a chamada para o 112. Primeiro chegou uma mota do INEM e só minutos depois chegou a ambulância e uma viatura médica de emergência e reanimação.
O momento foi de tensão e não deixou os profissionais do INEM indiferentes – ontem, horas depois de se saber que o seu estado de saúde não inspira cuidados, foi publicada na página de Instagram daquele instituto uma fotografia do momento em que o menor foi transportado para o hospital com uma mensagem de força: “Bem-vindo, puto!”
Uma investigação que poderá não ser simples
Dados os contornos do caso e os crimes que poderão estar em causa – exposição, abandono e infanticídio –, o caso foi de imediato entregue à Polícia Judiciária, que tenta agora localizar a mãe da criança e o responsável pelo abandono.
Quando um recém-nascido é encontrado abandonado na rua, uma das primeiras pistas seguidas pela investigação é a roupa ou a forma como está embrulhado, o que neste caso não acontecerá dado que o mesmo estava sem qualquer agasalho, em contacto com o lixo.
O ADN, que entretanto já deverá estar na posse dos investigadores – e que por norma é retirado com recurso a uma zaragatoa, um cotonete que é esfregado na bochecha –, servirá apenas para comparação quando for encontrado algum suspeito.
Uma fonte conhecedora deste tipo de investigações explicou ao i que neste caso terá de haver um trabalho intenso no local para se perceber se alguma mulher que resida próximo tenha estado grávida até há pouco tempo. Como o bebé foi encontrado num local mais de passagem, na Avenida Infante Dom Henrique, junto à estação de comboios de Santa Apolónia, esse trabalho também fica um pouco dificultado.
Porém, há alguns outros métodos que são utilizados nestas situações, como é o caso da verificação de possíveis câmaras de videovigilância que existam nas proximidades e dos telemóveis que estiveram naquele ponto específico.
De acordo com a mesma fonte, porém, o mais importante será o contacto com as unidades de saúde. Em muitos casos, a mãe acaba por ter de receber assistência e nesse momento apresenta sempre uma versão pouco crível. O contacto entre as autoridades e as unidades de saúde será, portanto, fundamental para fazer uma possível correlação entre uma situação dessas e o achamento do bebé.
Em situações anteriores, também as autoridades já chegaram a receber chamadas de familiares ou conhecidos dando conta de suspeitas em relação a determinada pessoa.
Por fim, o ADN da criança poderá ainda ser comparado com a base de dados que existe em Portugal, mas que é muito reduzida, pelo que dificilmente surtirá qualquer resultado.
Alguns especialistas contactados acreditam que, dados os contornos em que o bebé foi encontrado, o objetivo de quem o abandonou era que o bebé nunca fosse encontrado e, por isso, não restasse qualquer vestígio futuro da sua existência. Mas o que aconteceu realmente só a investigação o dirá.
Ontem, o Ministério Público confirmou oficialmente a abertura de um inquérito-crime. “Confirma-se a instauração de inquérito relacionado com a matéria. O mesmo corre termos no DIAP [Departamento de Investigação e Ação Penal] de Lisboa”, referiu a Procuradoria-Geral da República.
*Com Marta F. Reis
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