O presidente da Associação Sócio-Profissional (ASPP) da PSP, Paulo Rodrigues, um dos onze polícias absolvidos já esta semana pela acusação das agressões que cegaram do olho direito um adepto do Boavista, em Guimarães, garantiu que estão "todos inocentes” das acusações pelas quais foram julgados. “Fomos acusados injustamente”, disse ainda, além de lamentar terem sido "insultados e enxovalhados no Tribunal e na praça pública”, neste julgamento que terminou com absolvição coletiva, originando já recursos do Ministério Público e da vítimas pelas agressões, o advogado João Pedro Adrião, adepto do Boavista.
Numa declaração escrita, a pedido do Sol e do i, o agente-principal Paulo Rodrigues, da Força Destacada do Corpo de Intervenção da Unidade Especial de Polícia, no Comando Metropolitano da PSP do Porto, começou por garantir que não ficou satisfeito com a decisão, e acrescentou “só ter três certezas" de que é inocente.
“Durante meses fomos insultados e enxovalhados no Tribunal na praça pública e acusados injustamente, mas aquilo que acusam esta equipa em nada corresponde aos princípios que eu defendo aos que sempre defendi”, disse Paulo Rodrigues, salientando que “durante 20 anos como profissional de polícia tive de intervir nas mais variadas situações, algumas delas com risco da minha própria vida, mas sempre que fui obrigado a usar da força fi-lo no maior respeito pelos direitos das pessoas e até por respeito ao que eu sempre defendi”. “Nunca ninguém me pode acusar de ter ultrapassado os limites da lei, infelizmente hoje, apesar de absolvido neste julgamento o facto de me terem acusado já foi para mim o pior castigo que me podiam dar”, disse um dos onze arguidos e também presidente da ASPP.
“Fomos nós os bodes expiatórios”
“Obviamente que lamento os danos físicos irreversíveis num cidadão, independentemente do resultado ter sido de intervenção policial ou de uma qualquer contenda entre adeptos, mas que sejam acusados os verdadeiros responsáveis, mas que não se pressione para que se arranjem bodes expiatórios”, disse Paulo Rodrigues, um dos onze membros da equipa.
“Porque é que em mais de 120 polícias no local, cinco equipas presentes (três do CI/UEP e duas Equipas de Intervenção Rápida) foram escolher todos os elementos desta equipa, havendo outros que até estariam muito mais próximos do local onde é dito que ocorreu o incidente”, questiona Paulo Rodrigues, único dos onze arguidos conhecido publicamente.
“Porque é que foram vendendo pela comunicação social que tínhamos feito um pacto de silêncio, quando todos os onze da minha equipa responderam a todas as questões da IGAI, na fase do inquérito e dissemos em Tribunal que queríamos que essas declarações fossem utilizadas para o julgamento”, acrescenta Paulo Rodrigues, referindo que “podíamos não o ter permitido, mas quisemos que o Tribunal pudesse ponderar o que já tinha declarado, portanto, não houve nenhum pacto de silêncio, nem podia haver”, durante o julgamento.
“Como curiosidade não posso ficar indiferente ao facto de em todos os jogos de futebol quando há intervenção policial são publicadas de imediato várias fotos, vídeos e todo o tipo de imagens e nesse jogo, no meio de cerca de 300 adeptos, onde se dá a ocorrência, não houve nenhum adepto tivesse captado nada”, disse ainda Paulo Rodrigues, para quem “é estranho, no mínimo”, ao mesmo que apela “a quem tenha esse material que, em bom nome da Justiça, os publique ou os envie para o Ministério Público, para esclarecer tudo”.
“Tribunal aplicou a lei e fez justiça”
“Em todo este processo verifiquei que o Ministério Público criou uma história para poder fazer uma acusação, que não é possível enquadrar com a realidade, os comandantes bem o disseram em julgamento, mas que foi totalmente desvalorizado”, disse Paulo Rodrigues.
“Como se pode dizer que uma equipa que está posicionada no terreno com distância em cerca de 7 a 8 metros entre cada um, o que leva a que o primeiro da equipa possa estar a 80 metros do último, a ladear cerca de 300 adeptos à noite, e garantir ou dizer que se tem a certeza que todos viram uma ocorrência num canto da caixa de segurança”, questiona Paulo Rodrigues, referindo que “não pode, obviamente porque efetivamente não vimos”.
De acordo com o mesmo responsável, “com todo o respeito que nos merece o Ministério Público, seria interessante que nos acompanhasse nas missões desta equipa para perceber como trabalhamos, as dificuldades que temos, as decisões que por vezes somos obrigados a tomar, talvez isso lhe pudesse dar informação que permitiria perceber que a construção feita naquela acusação do Ministério Público, nunca poderia ter acontecido na realidade”.
“Não posso deixar de salientar que o Tribunal, apesar de fazer observações que de modo nenhum correspondem à realidade, e das quais não tem qualquer prova, nem poderia ter, não deixou de fazer justiça e aplicar a lei”, considerou também o agente Paulo Rodrigues.
“No nosso país os princípios do Estado de Direito impedem que se condene qualquer cidadão sem que lhe seja dito e imputado diretamente aquilo foi que ele fez de mal, não deveria ser possível condenar alguém, nem sequer se deveria acusar alguém, só porque se encontrava de serviço e na sua missão, fazendo-se uma suposição , de nenhuma forma demonstrada, de que essa pessoa estaria por perto ou teria visto uma ocorrência indesejada e que se lamenta totalmente”, concluiu o presidente da maior associação sindical da PSP.