Os deputados da XIV Legislatura tomaram posse há escassas três semanas e o programa do Governo foi discutido há pouco mais de quinze dias. Começou uma etapa exigente e de muito trabalho.
Os primeiros sinais políticos mostram que o panorama político nacional será mais agitado do que aquele que vivemos nos últimos quatro anos durante a denominada governação apoiada pela ‘geringonça’. O primeiro grande teste será já o Orçamento do Estado para 2020, proposta que o Governo terá de apresentar até 15 de dezembro. Haverá muita provocação gratuita da parte dos socialistas, como, de resto, já aconteceu com a marcação do programa do Governo, quando foram dados poucos dias aos deputados para analisarem um documento de 194 páginas que, na verdade, não traz novidades. É um programa de vacuidades e de serviços mínimos.
A falta de respostas do primeiro-ministro à interpelação que o Presidente do PSD fez na discussão do programa mostra um chefe do Governo igual a si próprio: evasivo. Cada vez que o primeiro-ministro se furta às perguntas dos deputados do PSD mostra um desprezo à democracia e a um milhão e meio de eleitores que votaram no PSD. O primeiro-ministro exerce uma cultura sobranceira e provocadora de fazer política.
O presidente do PSD indicou uma linha a seguir: fazer oposição construtiva, dura, incisiva e implacável na denúncia das «falhas da governação». Ainda mal o XXII Governo tomou posse e essas falhas já são notórias. Basta ver a dimensão do Governo – quase que podemos falar de um governo faraónico, com tantos ministros e secretários de Estado. A seguir virão as pirâmides e a tentação de mostrar obra nem sequer pensada, como o aeroporto no Montijo e a Ferrovia 2020.
No entanto, os sinais negativos que temos à nossa volta são preocupantes e a situação económico-financeira ilusória. É o estado calamitoso dos serviços públicos na saúde, nos transportes, nas escolas, nos registos e notariado, nos meios de comunicação social, no anúncio da construção do novo aeroporto de Lisboa, nos negócios do lítio em Montalegre, na TAP, nas trapalhadas do Ministério do Ambiente com o caso dos lixos à EGF, do grupo Mota-Engil, em investigação pelo Ministério Público, ou ainda no vazio sobre o Brexit, quando não sabemos o que fará o Governo para proteger os 300 mil portugueses residentes no Reino Unido ou as nossas empresas.
O ‘sniper’ e ideólogo de serviço do Governo, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, diz que o Governo e o PS não aceitarão qualquer ato de traição dos seus anteriores parceiros. A esquerda gosta de alimentar as suas zangas e ‘pseudo-amuos’. A tentação da parte do primeiro-ministro de dar uma no cravo e outra na ferradura será real: de manhã, pisca o olho à esquerda e de tarde, dá recados de que não haverá espaço para crises políticas.
«Comigo não haverá pântanos», declarou António Costa. É interessante o primeiro-ministro recuperar uma expressão de um governo de que ele próprio fez parte, quando foi ministro da Justiça de António Guterres, e redundou no tal ‘pântano’ no rescaldo das autárquicas de 2001.
Mas estamos já a viver um período de areias movediças na política. E se o pântano, lodaçal ou paul vier, sabemos bem o que irá acontecer. Os socialistas irão fugir e furtar-se-ão às responsabilidades. Foi o que sempre fizeram. Mário Centeno será o primeiro a sair, tão está desejoso que está de ir para governador do Banco de Portugal, depois do primeiro semestre de 2021.
No Conselho Nacional do PSD em Bragança, Rui Rio recordou que o próximo desafio eleitoral é as autárquicas de 2021. Ao longo de 45 anos, o PSD foi sempre uma força de implantação no poder local. Uma parte significativa da modernização de Portugal deve-se à ação criativa e enérgica dos autarcas social-democratas. É nos autarcas que o PSD encontra quadros competentes para servir as nossas comunidades e é neles que também depositamos a nossa confiança para ajudar a erguer uma página de bem-estar duradouro, criação de riqueza e desenvolvimento humano. O PSD tem, por isso, o dever de continuar a honrar a sua matriz social-democrata, reforçada agora pela liderança de Rui Rio.
Isabel Meirelles, Deputada e vice-presidente do PSD