O ténis continua a atrair muito público, alguns torneios bateram recordes de afluência este ano.
Até mesmo na China, onde é habitual vermos estádios com clareiras, a situação melhora, à medida que também se sente a emergente classe média, à qual o ténis apela como símbolo de elevador social e liberdade individual.
A democratização do ténis nos anos 70 do século XX e a sua progressiva popularidade nas décadas seguintes trouxe um novo público, mais colorido, entusiasta, ruidoso, que festeja nas bancadas como num estádio de futebol.
O ambiente de ‘country club tennis’ não desapareceu e ainda pode ser testemunhado em alguns torneios, como na relva de Newport (Rhode Island), Queen’s Club e Wimbledon (ambos em Londres), nos quais, em momentos de enorme importância, o silêncio total é tão ensurdecedor quanto a descontrolada gritaria dos ébrios numa sessão noturna do US Open.
Há também públicos distintos numa mesma metrópole. Em Paris, os espetadores do Masters 1000 de Paris-Bercy, num bairro limítrofe, não têm nada a ver com os de Roland Garros junto ao Bosque de Bolonha.
Em Londres sucede o mesmo com a oposição dos bairros chiques do Queen’s Club (West Kensington) e Wimbledon (entre Wimbledon Village e Southfields no Sudoeste), ou, esta semana, a O2 Arena, que recebe o Masters (ou Finais do ATP Tour), no mais popular Sudeste de Londres.
E depois… há o público de Roger Federer.
A dicotomia tenística entre Bjorn Borg e John McEnroe, aliada à loucura dos anos 70, trouxe ao ténis extraterrestres que se divertiam a provocar ‘Big Mac’, à espera da próxima explosão de mau génio do genial campeão norte-americano.
Federer cria uma loucura por onde passa, brotando tanto energúmenos – como os que insultaram o seu adversário Novak Djokovic na final do US Open de 2015 –, como mais exóticos exemplos, como John Burke, o ‘speaker’ do parlamento britânico, que cita Federer nos discursos e assiste, ao vivo ou na TV, à maioria dos seus encontros.
Nunca houve um ídolo como Borg, que provocava histéricas reações como os Beatles, algo que hoje parece impensável aos jovens que enchem os festivais de música.
Mas Federer gera uma experiência religiosa ao jeito dos Rolling Stones. King Roger tornou-se no deus do ténis. Tal como na banda de Mick Jagger, nunca se sabe quando será a sua última tournée e todos queremos estar lá para contar depois.
É essa mística que Nadal e Djokovic provavelmente nunca atingirão, mesmo que ganhem mais títulos do Grand Slam, mesmo que um dia sejam eles o melhor tenista de todos os tempos.