Na Guiné-Bissau, um país com um longo histórico de golpes de Estado, as eleições presidenciais deste domingo tinham tudo para correr mal, semanas após o Presidente José Mário Vaz demitir o primeiro-ministro Aristides Gomes, que continuou em funções graças ao apoio da comunidade internacional. Ainda assim, houve “uma afluência massiva às urnas”, segundo disse a porta-voz da Comissão Nacional de Eleições, Felisberta Vaz, a meia hora do encerramento das urnas. Tudo decorreu “normalmente, as pessoas estão a votar pacificamente”, declarou o chefe de observadores da União Africana, Rafael Branco.
A grande promessa dos 12 candidatos foi mesmo isso, paz e estabilidade. Armando Wanga Ialá foi um dos 760 mil eleitores guineenses chamados a votar. Disse à Lusa que espera que estas eleições possam “acabar com todos os problemas da Guiné-Bissau”, onde cerca de 70% da população vive abaixo do limiar da pobreza e mais de 25% sofre de desnutrição, de acordo com o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas.
Contudo, “não serão as eleições, de forma mágica, a resolver os problemas”, alertou o primeiro-ministro. O Governo de Aristides Gomes conta com o apoio do PAIGC, principal partido da Guiné-Bissau desde a independência, cujo candidato presidencial, Domingos Simões Pereira, é o favorito estas eleições. Caso vá à segunda volta, não terá a viva facilitada – a maioria dos candidatos da oposição acordou em apoiar o seu adversário.
Entre os seus principais adversários está o líder do Madem-G15, Umaro Sissoco Embaló: o “general do povo”, lê-se na sua propaganda. Bem como Nuno Nabian, do APU-PDGB, que conta com o apoio do Partido de Renovação Social (PSR), historicamente ligado à etnia balanta – que tem grande peso nas forças armadas.
Também se recandidatou o atual Presidente, José Mário Vaz. Foi o primeiro chefe de Estado guineense eleito a terminar um mandato sem ser morto ou derrubado – não contando com João “Nino” Vieira, assassinado em 2008. “Se não ganhar, espero que outro que ganhe assegure a paz que consegui manter”, disse José Mário Vaz ao SOL.
Contudo, não faltam receios quanto ao futuro do país. “O dia da votação costuma ser pacífico. Mas há consenso aqui, o drama surge é a seguir às eleições, depois de os resultados serem conhecidos”, disse à Plataforma Oldemiro Balói, chefe dos observadores eleitorais da CPLP na Guiné Bissau.