Depois de vir a público que o autor do atentado da passada sexta-feira em Londonbridge, Usman Khan, foi libertado da prisão antes de cumprir a totalidade da pena, o debate sobre segurança no Reino Unido promete dominar parte da campanha eleitoral – as eleições realizam-se no dia 12 de dezembro.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, tentou pôr as culpas nos trabalhistas. Khan – morto pela polícia na sexta-feira durante o ataque – foi libertado automaticamente sob uma lei, aprovada em 2008 pelo Labour, que permite a saída da prisão a condenados por terrorismo mediante bom comportamento.
O homem de 28 anos foi condenado a uma pena de prisão indeterminada depois de ter conspirado um atentado na Bolsa de Londres, em 2012. Essa pena previa um mínimo de oito anos de encarceramento. No entanto, o Tribunal de Recurso britânico anulou essa sentença, em 2013, substituindo-a por 16 anos de pena fixa de prisão, dos quais Khan deveria cumprir metade. Em dezembro de 2018, acabou por ser libertado condicionalmente, mediante uma “lista extensiva de condições de licença”, segundo o comissário-adjunto da polícia Neil Basu, citado pela BBC.
No sábado, o primeiro-ministro britânico prometeu um pacote de medidas de reforma pesadas contra o terrorismo, onde se incluem penas mínimas de prisão de 14 anos, o fim da libertação automática para terroristas e outras ofensas graves e o um novo sistema sob o qual os condenados terão de cumprir todos os dias da sentença na prisão.
Numa entrevista à BBC, este domingo, Johnson disse haver outras 74 pessoas libertadas antecipadamente após terem cometido ofensas graves, acrescentando que foram tomadas medidas imediatamente após o ataque em Londonbridge para fiscalizar esses indivíduos. O primeiro-ministro recusou, porém, que os cortes financeiros determinados pelo Governo conservador nos serviços de liberdade condicional tenham contribuído para este atentado.
À estação britânica, Johnson manifestou a sua “repulsa” por alguém tão “perigoso” como Khan poder ser libertado da prisão depois de cumprir apenas oito anos de pena. “Deploro absolutamente o facto de que este homem estivesse nas ruas”, sustentou: “Vamos agir contra isso”. E culpou o “Governo esquerdista” do Labour – notando que Corbyn foi a favor – pela legislação introduzida em 2008, ao que o jornalista da BBC relembrou repetidamente que os conservadores estavam no Governo há 10 anos e que nada tinham feito. “Sou um primeiro-ministro diferente”, respondeu Johnson.
Corbyn, por sua vez, atribuiu as responsabilidades às intervenções militares do Reino Unido, dizendo, num discurso este domingo, que estas “exacerbaram em vez de resolverem” o problema do terrorismo.
Corbyn vincou ainda que foi contra a guerra do Iraque, quando um Governo trabalhista participou na coligação que invadiu e ocupou aquele país, em 2003. “Disse que iria desencadear uma espiral de conflito, ódio, miséria e desespero que alimentará futuras guerras, o conflito, o terrorismo e a miséria de gerações futuras”, relembrou Corbyn.
Em entrevista à Sky News no mesmo dia, o líder trabalhista afirmou que aqueles que foram condenados por ofensas de terrorismo “não têm necessariamente” que cumprir a totalidade das penas. “Acho que depende das circunstâncias, depende da sentença, mas depende crucialmente daquilo que fizeram na prisão”, realçando que a prisão também deve ser “um lugar onde reabilitação ocorre”.
No sábado, Corbyn já tinha dito que deviam ser feitas perguntas urgentes sobre as responsabilidades do Governo conservador ao impor cortes drásticos nos serviços prisionais e quando tentou uma privatização – que não acabou por não avançar – do sistema de liberdade condicional, acusando o Executivo de ter também falhado na gestão do sistema de sentenças.
À BBC Radio, o especialista em terrorismo Ian Acheson argumentou no mesmo sentido que os trabalhistas, embora tenha assinalado que é conservador. “No coração” deste problema está a “destruição dos serviços prisionais e de liberdade condicional” realizada pelo Governo do Partido Conservador: “Não dá para fugirmos a isso”.
Diz Acheson que a questão foi “reconhecida” pelos ministros tories no foro privado, instando-os a admitir publicamente o que no seu ponto de vista foi um erro trágico. “Fomos demasiado longe, demasiado rápido – estamos agora a colher o que plantámos”, defendeu, pedindo aos conservadores para o admitirem.