O último relatório aprovado esta semana pelo Conselho Nacional de Educação, revelou números assustadores – embora totalmente previsíveis! – sobretudo relativamente ao número de horas que os nossos bebés e crianças passam em amas e creches. Até aos três anos estão em média 39,1 horas por semana nesses lugares, quase doze horas mais do que a média da União Europeia. Embora a diferença seja pouco significativa, as crianças desta faixa etária passam mais tempo na escola do que as do pré-escolar!
Estes números espelham um país em que as famílias se veem não só obrigadas a colocar os filhos em amas ou creches poucos meses depois destes nascerem, como a fazê-los cumprir o horário completo desde muito cedo. As malfadadas 40 horas semanais não são sequer questionáveis para os mais pequenos, que nem podem fazer greve. A maioria entra entra às 9h e sai às 17h e há ainda muitos que ultrapassam largamente este horário, até porque além de cumprirem o tempo de trabalho dos pais têm ainda de lhe acrescentar as deslocações.
É um país de pernas para o ar! As escolas e as crianças adaptam-se ao horário dos pais, que é cada vez mais longo, em vez de o horário dos pais se adaptar a elas. Há até cada vez mais escolas com horário alargado, abertas 24 horas por dia, sete dias por semana, 12 meses por ano. É lamentável não haver legislação que preveja, pelo menos, uma redução de horário laboral para os pais nos primeiros três anos de vida do bebé, em que sabemos que a ligação, presença e acompanhamento da mãe é fulcral. Em Portugal está prevista a redução durante o primeiro ano de vida e, ainda assim, na prática, sabemos que isto muitas vezes não acontece. O que se vê aliás pelos números apresentados. Depois do primeiro ano tem direito a diminuição do número de horas apenas quem apresentar atestado médico comprovativo de que continua a amamentar. Ainda gostava de saber por que o leite materno é considerado mais importante do que a própria mãe!
Os pais assistem ao tempo a escapar-se-lhes entre os dedos, com os filhos a crescerem nos braços dos outros (que por sua vez também saem tarde do trabalho para irem ter com os seus filhos), a fazerem as primeiras conquistas, a dar os primeiros passos, a dizer as primeiras palavras longe do seu olhar. E muitas vezes as horas que restam – que são de despachar para jantar e ir para a cama – são vividas entre birras de sono e irritação. Porque as crianças fazem todos os dias horas extraordinárias sem receber nada em troca e muitas vezes, quando expressam a sua indignação, tristeza e revolta, os pais irritam-se porque também eles estão demasiado cansados e zangados para entender o que quer que seja.
Por melhores que possam ser as creches e os técnicos – e em ambos os casos existe do melhor ao pior – é desolador ver bebés e crianças pequenos a crescer em escolas, afastados de quem mais gostam e precisam durante um dia inteiro. Em vez da preocupação com a intencionalidade educativa nas creches, os partidos deviam preocupar-se em permitir que os filhos possam estar mais tempo com os pais, sem que estes tenham de ser prejudicados por isso. A sua presença nos primeiros anos de vida é essencial para um desenvolvimento feliz e saudável. É urgente fazer qualquer coisa para que não se crie uma sociedade doente, infeliz, cansada, abandonada e medicada.