Bruno de Carvalho voltou ontem à sala onde está a decorrer o julgamento relativo à invasão da academia de Alcochete e não conseguiu conter-se perante as declarações do antigo chefe de segurança do Sporting. Ricardo Gonçalves deu vários pormenores que poderão ser complicados para a defesa do antigo presidente dos verdes-e-brancos, nomeadamente que Bruno de Carvalho quis saber na véspera do ataque se o treino era na tarde do dia seguinte.
Ricardo Gonçalves terá ainda referido que nessa mesma reunião do staff de dia 14 de maio de 2018, véspera do ataque, o então presidente terá ainda questionado os presentes ficariam do seu lado independentemente do que viesse a acontecer – algo que disse não ter entendido, associando-o à possibilidade de o técnico Jorge Jesus vir a sair do comando da equipa.
Perante o coletivo, Gonçalves indicou como sendo os cabecilhas daquela invasão quatro arguidos: Tiago Silva, conhecido como Bocas, Pavlo Antonchuk, cujo apelido é o Ucraniano, João Calisto Marques e Valter Semedo.
Durante a manhã, a testemunha explicou ainda ao pormenor tudo o que viu quando chegou a Alcochete. “Ameaçaram os jogadores, atiram uma tocha em frente à minha cara. Vi um conjunto de agressões: uma geleira a voar pelo ar, indivíduos a dar socos a jogadores, um indivíduo com o cinto a atingir o Misic. O Valter, o Bocas e o Ucraniano entraram no balneário e dirigiram-se a Acuña e Bataglia e agrediram-nos. Empurrões e socos. O Calisto e Alan também agrediram. Pela forma como se deslocaram, o foco era o Acuña e o Bataglia”, disse, segundo noticiou ontem o Expresso. E reproduziu perante os juízes algumas outras ameaças que ouviu: “Vou matar-te, não jogas nada, não vão sair daqui vivos”.
Disse, no entanto, não saber quantos dos arguidos entraram naquele dia na ala profissional e quantos terão ficado do lado de fora.
Tensão no tribunal e a conversa privada de Bruno Foi após estas revelações que Bruno de Carvalho não se aguentou e o clima acabou por ficar um pouco tenso. O advogado do ex-presidente leonino chegou mesmo a pedir que as revelações feitas pelo coordenador de segurança relativas ao conteúdo das conversas tidas na véspera do ataque fossem anuladas, justificando que se tratou de conversas privadas de Bruno de Carvalho.
Durante a parte da manhã, Bruno de Carvalho chegou mesmo a manifestar-se de forma mais efusiva, esbracejando.
Da parte da tarde, a testemunha continuou a ser ouvida, tendo uma das defesas chegado a pedir ao tribunal que extraísse uma certidão por considerar que Ricardo Gonçalves havia incorrido num crime de falsidade de declarações, fundamentando que a versão apresentada ao Ministério Público pela testemunha durante a fase de investigação havia sido diferente.
Ricardo Gonçalves ainda falou de uma outra reunião, realizada a 7 de abril de 2018, após a derrota com o Atlético de Madrid, onde apenas estava o plantel – o staff ficara de fora. Segundo o Jogo, apesar de não ter entrado, ouviu parte da conversa, nomeadamente o antigo presidente do Sporting a insultar o guarda-redes Rui Patrício: “Ingrato, armado em diva, vedeta e mimado”.
O dia de hoje tinha sido reservado para ouvir o funcionário do Sporting Rolim Duarte, na qualidade de testemunha; porém, a diligência foi ontem dada sem efeito. Mas os trabalhos continuam hoje no Tribunal de Monsanto, naquela que será a oitava sessão deste julgamento.
Bruno de Carvalho voltou ontem ao tribunal Recorde-se que no mês passado, quando começou o julgamento, o antigo presidente do Sporting foi dispensado pela juíza de estar presente nas sessões. O pedido foi feito pela defesa de Bruno de Carvalho, que justificou com o facto de o antigo líder leonino ter uma ocupação profissional que lhe preenche as manhãs e as tardes e ainda por estar desgastado com o caso. Bruno de Carvalho está acusado de 44 crimes, entre os quais o de terrorismo.
Ainda que o Ministério Público – que deduziu acusação contra Bruno de Carvalho por autoria moral da invasão à Academia do Sporting – tenha considerado que a presença dos 44 arguidos era um dever, a juíza aceitou o pedido e dispensou-o. Além de Bruno de Carvalho, o tribunal decidiu ainda dispensar outros 17 arguidos por motivos idênticos.