Sabe o leitor o que são hedge funds? Não interessa, mais uns meses e vai ficar mestre. Dantes, também não sabia o significado de libor, euribor, spread… e aprendeu num instante.
O que vai esquecer são os empréstimos bancários. Mútuos, contas-correntes e overdrafts são velharias, tão inúteis quanto as letras de câmbio dos Caldeus, que as usavam na forma de placas de barro. Levantamento de fundos através da Bolsa, também não há – o mercado de capitais está suspenso por tempo indeterminado.
Porquê? Por causa do pensamento oficial: dinheiro, só com ‘garantias sólidas’. Esqueça essa coisa do valor do negócio, da experiência do empresário, da solidez do balanço, da saúde da conta de exploração, do Ebita, do Ebitda… Nada conta. À porta dos bancos está afixado o letreiro: ‘Nesta casa não se fia!’.
Os bancos estão a abarrotar de dinheiro, mas falta quem esteja disposto a apor a assinatura num empréstimo para pagar salários ou para comprar matérias-primas, que não se podem hipotecar. Assim se chegou a uma situação em que o fluxo de crédito está reduzido ao pinga-pinga que sai dos algoritmos que aprovam os empréstimos para consumo e para compra de casa, insuficiente para absorver todo o dinheiro disponível. Com os cofres cheios, os bancos já se preparam para cobrar pelos depósitos.
O espaço público também está cheio, mas é de julgamentos morais sobre os decisores de crédito que, até prova em contrário, são suspeitos de alguma tramoia. Sentindo-se acossados, esses decisores barricaram-se atrás dos regulamentos e não assinam sem ‘cinto e suspensórios’, que estão nos pareceres da direção de risco, do compliance, da auditoria e do gabinete jurídico. Reunidos todos os pareceres, também não decidem, adiam… e a economia que espere.
Se houver ativos que valham alguma coisa, os hedge funds emprestam… ou compram; se não houver, tratem de informar os fornecedores que não pode pagar, despeçam o pessoal… e fechem a loja. O velho slogan ‘Queres dinheiro? Vai ao Totta’ dá agora pela fórmula ‘Estás aflito? Vai aos hedge funds’.
A economia arrasta-se e o cheiro a morte atrai os abutres. O que havia de mais valioso foi vendido há muito: REN, PT, EDP, CTT, Brisa, Totta, BPI, BCP, Fidelidade, Tranquilidade. Sobram umas quantas bandeiras, à mercê de quem der mais: quintas no Douro, quarteirões na Baixa de Lisboa, herdades no Alentejo, hotéis no Algarve.
Os homens dos Fundos dizem que a nacionalidade não conta. Terão as suas razões. As razões do Governo para proclamar que estamos ricos é que são um mistério. Sol? Praias? Turistas? Estrelas Michelin? Casas no Airbnb?
Ahhhhh… vamos ter um aeroporto no Montijo. Mas é da Vinci, que adivinhou, ou alguém lhe disse, e tratou de comprar a ponte Vasco da Gama.
Projetos inovadores? Startups? Peçam dinheiro aos pais ou façam fundraising. Bill Gates também não teve dinheiro dos bancos para lançar a Microsoft e veja-se onde chegou!
Consta que Jesus Cristo não sabia nada de finanças. Agora, já não está só!