Este Governo, que começou logo sem ‘período de graça’, não responde às agendas de rua que lhe marcam inevitavelmente o destino, nem mostra nenhuma agenda reformista. O Governo do PS parece adormecido nas próprias dificuldades da sua narrativa e orçamento ou na falta de conhecimento dos dossiers dos seus novos e muitos ministros. Está nitidamente a prazo e rapidamente começará a contar os dias.
A esquerda do BE e do PCP disfarçam, por seu lado, a derrota eleitoral, com uma agenda mais radical (para desespero dos socialistas, obrigados a negociar o OE/2020) e com o controlo dos órgãos de comunicação social, mas também sabem que a sua relevância política não dura mais que os próximos dois anos. Pouco conseguem fazer contra a ocupação da rua por forças inorgânicas – que tornam irrelevantes os velhos sindicatos – ou pela agenda igualmente populista de direita, que tem sabido marcar o espaço público – também ameaçando CDS, onde o declínio define os próximos dois anos como a última tábua de salvação de uma extinção pré-anunciada desde a saída de Paulo Portas.
Basicamente, até aqui, tudo não foi mais que o rescaldo das últimas legislativas ou já a pré-campanha, como se as eleições gerais estivessem aí.
Finalmente, as diretas do PSD. As candidaturas que se prefiguram parecem também anunciar lideranças a prazo. Para já, Rui Rio – apesar da boa prestação na campanha e no primeiro debate quinzenal – parece ter sucumbido de novo; Luís Montenegro – apesar de se assumir como herdeiro do Passos e ter imprensa – não arranca; e Pinto Luz – apesar da surpresa dos apoios e dos meios – ainda não ganhou a robustez para se afirmar como um candidato a primeiro-ministro.
Porém, o PSD tem tudo a ganhar neste ciclo e sobretudo, sabe que pode voltar a ser Governo depois de António Costa.
Os cidadãos e os militantes dos partidos não escolhem os seus líderes. São os líderes que ‘compram’ os seus votos, para serem eleitos. E para isso, mesmo que seja o Governo a perder a sua maioria, mesmo que seja António Costa a ter que assegurar que tem maioria para governar, os candidatos precisam de uma agenda e de credibilidade para a cumprir.
Depois das últimas legislativas, a questão central da refundação do centro-direita a partir do PSD não é se um candidato é mais à direita que o outro ou se o PSD abandona o centro, mas a questão é de como vai o PSD reconquistar o poder.
Exige-se, portanto, aos candidatos que respondam por um caderno de encargos mínimo, com dois vetores:
1. Reconquistar o Poder, propondo uma estratégia social-democrata, onde as pessoas e as empresas estão primeiro que o Estado e que deve passar por: aumentar os salários e os rendimentos; combater a pobreza e acabar com os sem-abrigo e os bairros-de-lata; proteger o ambiente; enfrentar o problema demográfico, com políticas de família e imigração; facilitar o regresso de emigrantes; assegurar um Estado Social de Garantia eficiente; garantir a igualdade no acesso aos serviços públicos; descentralizar na saúde, por exemplo, transferindo para os municípios os serviços de cuidados primários; apostar na investigação e mudar o paradigma do ensino; estruturar políticas de habitação orientadas para as classes médias; reformar a Justiça e as polícias de investigação; recuperar o papel das Forças Armadas e dignificar as forças de segurança; manter a sustentabilidade das finanças públicas, reformando o Estado e reduzindo a dívida; baixar os impostos sobre as pessoas e as empresas; reconstruir os grupos económicos nacionais; atrair investimento estrangeiro; ‘comprar português’ e substituir importações; reduzir o excesso de regulação económica; rever as leis laborais e acabar com as corporações; regulamentar a inteligência artificial (machine learning, big data e robôs) e capacitar as pessoas para a Revolução 4.0; repensar o Euro e afirmar a integração europeia com respeito pelo nosso perfil ibérico, atlântico e lusófono. E,
2. O segundo vetor será sobre a renovação do partido, propondo um PSD atento às disrupções e aos valores do século XXI, onde todos os militantes são iguais. Têm que tomar posição sobre o modo de abrir o partido à diversidade dos militantes; se acabam com as diretas, preferindo a adesão de novos militantes que participem em Congressos; se querem reconciliar as estruturas do PSD com os simpatizantes e eleitores; e finalmente, se reconhecem o papel dos autarcas como reserva de competência do PSD e como vão preparar a vitória nas próximas autárquicas.
É esta a narrativa crítica para qualquer candidato que acredite que consegue devolver o poder ao PSD.