Apesar de ter o vulcão mais ativo da Nova Zelândia – e talvez por isso -, a ilha de Whakaari, também conhecida como White Island, é um destino turístico popular, com visitas guiadas e voos panorâmicos. Segundo as autoridades, estavam menos de 50 turistas na ilha privada, esta segunda-feira, às 14h11 (01h11 em Portugal) quando o vulcão entrou em erupção de forma explosiva, projetando rochas, cinzas e uma espessa coluna de gases tóxicos. Pelo menos cinco pessoas morreram e 23 foram resgatadas, todas com ferimentos, sobretudo queimaduras, sete delas em estado crítico.
O subcomandante da polícia local, John Tims, afirmou que pelo menos duas dezenas de pessoas ficaram na ilha, mas dificilmente seriam resgatadas. “Não é seguro voltar à ilha”, explicou. Um porta-voz da polícia acrescentou que “não foram detetados sinais de vida” após serem efetuados uma série de voos de reconhecimento. “A polícia acredita que todos os que podiam ser retirados da ilha vivos foram resgatados no momento da evacuação”, concluiu.
“Sei que haverá uma enorme preocupação e ansiedade para aqueles cujos entes queridos estavam, na altura, na ilha”, assegurou a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinta Arden. Entre os desaparecidos estão tanto visitantes neozelandeses como estrangeiros, a maioria deles australianos. “Posso garantir-lhes que a polícia está a fazer tudo o que pode”, prometeu.
Um turista norte-americano, Michael Schade, que saiu da ilha com os pais momentos antes da erupção, contou ao Guardian que o barco em que seguia regressou para resgatar quem ficou para trás, encontrando muitos queimados, outros em choque. Passageiros passaram-lhes casacos e camisolas, gotas oftalmológicas e água, formando uma corrente humana para encher garrafas, que eram despejadas sobre as queimaduras.
Uma das fotografias que Schade publicou nas redes sociais mostram um helicóptero despenhado na ilha, coberto por um manto de cinza branca – vulcanologistas garantem que as cinzas lançadas pelo vulcão chegaram a mais de 3500 metros de altitude.
“Erupções muito violentas como esta são relativamente raras ou ocorrem em intervalos muito espaçados”, afirmou o geólogo Chris Elders ao canal australiano ABC. Nos últimos anos verificou-se um aumento da atividade vulcânica na ilha, “mas era de relativamente baixo nível, sobretudo libertação de gás e enxofre”.
Desastre anunciado Embora a última erupção fatal na ilha tenha sido há mais de um século, em 1914, em que morreram 12 mineiros que trabalhavam numa mina de enxofre, “White Island tem sido um desastre à espera de acontecer”, disse ao Australian Science Media Centre o prof. Ray Cas, da Universidade Monash. “Sempre senti que era demasiado perigoso permitir as visitas diárias de grupos à ilha vulcânica inabitada, de barco ou de helicóptero”.
Afinal, nos últimos oito anos houve seis pequenas erupções em White Island, mas nessas ocasiões não havia turistas no local, “sobretudo devido à hora ou às condições meteorológicas”, explicou à BBC Ben Kennedy, professor de Vulcanologia na Universidade de Cantuária.
Em novembro, a agência neozelandesa GeoNet aumentou o nível de risco vulcânico em White Island de um para dois – o nível mais alto antes de uma erupção -, mas isso não parece ter alterado os padrões das visitas ao local, propriedade da fundação Buttle Family Trust.
“Testemunhe numa visita as poderosas forças que moldaram a terra”, sugere o site da operadora White Island Tours, que organiza visitas à ilha – que foi cenário de vários filmes, entre os quais o último da série Narnia, O Caminheiro da Alvorada. “Há muitos outros vulcões no mundo que os turistas visitam onde há níveis semelhantes de atividade vulcânica de baixa intensidade”, lembrou à ABC o geólogo Chris Elders. “Faz parte da atração, suponho”.