Senhor Presidente,
No meu entendimento, o contrato que celebrei com a empresa de V. Exa. regula as condições do aluguer da minha cabeça, para pensar no interesse da mesma. Diferentemente, V. Exa. parece entender que o ordenado que me paga corresponde ao aluguer do meu cu, para ficar sentado na cadeira. Ora, como eu não o alugo… nem a V. Exa., nem a ninguém, vejo-me forçado a apresentar a minha demissão.
A estória ter-se-á passado há uns bons sessenta anos – omito os nomes para não ferir suscetibilidades – e recordei-a depois de ouvir vários membros do Governo dissertarem acerca de salários, produtividade e horários, com uma tal ligeireza que me interrogo sobre se alcançam as implicações do que dizem.
A bem da paz na Terra e da concórdia geral, dou o meu contributo, começando por lembrar o óbvio: a produtividade varia na razão direta da qualidade do ambiente laboral. E não é preciso pedir ajuda às ciências do trabalho ou à psicologia, para se perceber que não pode haver motivação, e produtividade, num serviço em que faltem boas condições físicas, equipamento adequado, organização racional, lealdade das chefias, definição clara de objetivos e identificação com os métodos utilizados para os atingir, incluindo, logicamente, a serventia dos tempos de trabalho.
A remuneração é, e será sempre, uma variável decisiva, mas erra quem não perceber que, para além do salário, a remuneração compreende também o justo reconhecimento da atitude e do contributo de cada um. Singularmente, fora o salário e o equipamento, todos os outros fatores são gratuitos e dependem, apenas, da vontade e da competência de quem manda.
A supervisão de mais de mil unidades produtivas independentes – tal era o número de agências do banco onde trabalhei mais tempo – permitiu-me comparar os resultados alcançados e os correspondentes níveis de satisfação. Pude, então, concluir que a conjugação perfeita está na sucessão: chefia competente => satisfação dos trabalhadores => satisfação dos clientes => maior produtividade total e por hora de trabalho.
Salvo nos casos de serviços com atendimento público, ou de cadeias de produção industrial, que requerem a presença física, as pessoas ajustam o ritmo de trabalho à duração da jornada: mais rápido, se a saída é às seis, mais lento, se for às oito. Daí que as pressões para os trabalhadores ficarem mais tempo sentados nas cadeiras tendam a redundar em acréscimos de custos e em quebras de motivação, mesmo quando o tempo é usado para recreio pessoal.
Então, se o Governo quer mesmo aumentar a produtividade, recrute com base no mérito, e não do compadrio; racionalize os processos de trabalho; implante sistemas de avaliação; e estabeleça salários dignos, em função do valor criado… e não do horário. No setor privado o poder de intervenção é menor, mas governantes competentes hão de saber criar incentivos que levem à adoção das melhores práticas. Basta pôr os olhos nos países de Leste, que já nos ultrapassaram nos rankings.