A nova presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen tomou posse com o desejo principal em pôr a Europa a crescer com o combate às alterações climáticas. O tom está dado e deverá ser refletido no próximo programa-quadro.
Há efetivamente setores da nossa economia que contribuem para as alterações climáticas. O consumo de energia é a face mais visível. Aqui, tem havido duas grandes orientações: a eficiência energética e a eliminação das fontes de produção mais poluentes substituindo-as por energias renováveis, mais pequenas e mais dispersas, de forma a viabilizar edifícios energeticamente independentes. Por exemplo, o primeiro-ministro já anunciou a intenção de encerrar as duas últimas centrais termoelétricas a carvão do país – a de Pego em 2021 e a de Sines em 2023. Esta semana a EPAL anunciou como objetivo, até 2025, tornar-se energeticamente neutra, reforçando a sua eficiência energética, produzindo energia elétrica a partir de fontes renováveis.
No entanto, para o público em geral, o setor da construção civil é uma face oculta na contribuição para as alterações climáticas. Por exemplo, a produção de cimento, como matéria prima, é uma das maiores fontes de emissão de gases com efeito de estufa. Além disso, a construção é responsável por uma parte significativa dos resíduos produzidos em Portugal.
A transição do modelo linear de produção de materiais para um modelo circular de desenvolvimento sustentável permite devolver ao ciclo produtivo os materiais em final de vida útil. A economia circular tem surgido assim como uma solução para atenuar o impacto ambiental por diminuir o recurso às matérias primas. Contudo, é difícil gerar uma economia com impacto internacional se não houver desígnios nacionais. Também é uma oportunidade perdida combater as alterações climáticas importando apenas tecnologia.
As empresas, universidades e instituições de I&D precisam de estratégias concertadas e de financiamento plurianual para desenvolvimento de novos materiais com menores impactos ambientais, conceção de processos construtivos que fomentem uma construção circular e criação de redes internacionais (somos um estado membro privilegiado na ligação da Europa com os países de língua portuguesa).
Portugal tem de aproveitar este momento político para gerar impacto económico e criar emprego de valor acrescentado à volta de uma construção mais sustentável. Tal como o investimento público nas grandes infraestruturas do país foi essencial para a internacionalização das empresas, hoje a construção civil nacional tem uma nova oportunidade para alargar o seu portfólio.
*Diretor da Licenciatura e Mestrado em Engenharia Civil Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias