D epois de passar mais um ano arrumadinho lá para as terras frias do norte, o Pai Natal volta em força, seja em decorações, produtos, vilas natal, publicidade ou filmes. O Natal está a chegar e em muitas casas não haveria presentes se não fosse esta figura rechonchuda. Desde sempre – e sobretudo à medida que os filhos vão crescendo –, alguns pais ficam na dúvida se devem ou não participar nesta pequena mentira condenada a acabar um dia.
Numa altura em que as crianças crescem cada vez mais depressa – muitas aprendem música pimba em vez de canções infantis – e a inocência ameaça desaparecer, nada como um Pai Natal para emprestar um pouco de magia à infância.
Imaginar e sonhar é essencial para o desenvolvimento do pensamento e da linguagem e ajuda a criar adultos com pensamento mais livre e original. Além de que é fantástico! A figura simpática do Pai Natal e toda a magia e expectativa que se cria à sua volta – mais do que o Pai Natal persecutório que está sempre a ver tudo e que é usado como o aliado perfeito para que as crianças se portem bem no último mês do ano – só podem enriquecer estes dias especiais e a imaginação dos mais pequenos. Não devemos pensar que estamos a mentir aos nossos filhos, que será um sarilho um dia termos de reconhecer que andámos a enganá-los. Tal como o Coelhinho da Páscoa ou a Fada dos Dentes, o velhinho das barbas brancas ocupa um lugar especial numa fase única em que a realidade e a imaginação andam a par e passo.
Um dia, quando tiverem mais maturidade, vão saber a verdade, seja porque juntam as peças e se apercebem que não é possível, seja porque alguém lhes diz ou ouvem em algum lado. Geralmente a ideia vai-se dissipando até desaparecer completamente. É a nossa parte mais infantil a tentar que a magia permaneça em nós. Um bom exemplo disso foi o meu filho mais velho, quando começou a arranjar estratégias para, além das evidências que eram já muitas, não deixar que o Pai Natal desaparecesse completamente: afinal tinha descoberto que eram os pais que compravam os presentes, e o Pai Natal só os entregava. Até hoje nunca me perguntou diretamente se o Pai Natal existe, acho que quer manter parte desta magia e da nossa cumplicidade e não deixar completamente de acreditar.
Lembro-me de um dia estar a espreitar pela chaminé e a minha irmã me perguntar o que fazia. Depois de lhe dizer que estava a ver se via o Pai Natal – o tempo que eu passava a espreitar para aquele corredor escuro – ela disse sem misericórdia que o Pai Natal não existia. A partir de uma certa altura já não nos choca aceitar a realidade. Começa a fazer mais sentido e até nos tranquiliza saber que são os nossos pais que se dedicam a deixar na chaminé alguns presentes que gostaríamos de ter e não um velhinho desconhecido que nos entra pela casa a meio da noite.
Tenho a certeza que se a experiência do Pai Natal não tivesse sido boa para a maioria das crianças ele já não existiria por esta altura. E se sobreviveu todos estes anos, deixemos que muitas mais gerações possam embarcar nesta magia com a conivência dos adultos a permitirem-se também brincar e sonhar.