A mesa de Natal cheia que recordamos da nossa infância começa a ter cada vez mais cadeiras vazias. Na nossa família, este ano foi o tio Zé, irmão da minha mãe, que nos deixou. Era uma pessoa impecável. Divertido, calmo, não arranjava confusão com ninguém e tinha um ótimo coração. Partiu no verão, demasiado cedo e sem aviso, fazendo com que seja ainda muito difícil acreditar que já não está connosco.
O Natal é uma época propícia para pensarmos naqueles que nos deixaram e com quem estávamos invariavelmente nesta altura. É a época da família, da que está e daquela a que já não podemos desejar as boas festas.
É verdade que os lugares vazios dão lugar a uma nova geração. Mas ninguém é substituível, felizmente não somos recicláveis. Os lugares que ficaram vazios trarão sempre saudade. Embora cada um fique imortalizado dentro de nós e apesar das gargalhadas das crianças e da ternura dos bebés que entram nas famílias, quem já não está leva sempre consigo uma parte dos natais antigos e do que fomos com eles.
Precisamente pela importância que os outros têm em nós, não nos podemos esquecer de cuidar bem deles e de dar o real valor a quem está presente, não esperando pelo dia em que percebemos toda a falta que nos fazem. É um exercício que devíamos fazer diariamente. Para que também nós, um dia, possamos ficar imortalizados neles.
Infelizmente, em vez de nos dedicarmos ao que é realmente importante nesta quadra, muitas vezes somos atolados de preocupações absurdas. O que oferecer a quem? Como ir comprar presentes a sítios onde mal nos conseguimos mexer?
A propósito disto, o pai de uma grande amiga escreveu uma vez uma carta muito especial à família em que falava da verdadeira importância do Natal. Segundo ele, só as crianças deveriam receber presentes, porque o maior presente de cada um dos adultos era terem-se uns aos outros. Os maiores presentes seriam aqueles que se dizem e se sentem.
Ao contrário de alguns presentes de Natal que passam de moda, estragam-se ou caem em desuso, as palavras, as cartas e os bons momentos com aqueles que nos são queridos são recordações que ficam intactas, porque as guardaremos para sempre num lugar muito especial. Que podem ser revisitadas as vezes que quisermos, que trarão quem já não está para mais perto de nós, que nos farão recordá-los com carinho e permanecerão connosco até ao último dia. Por vezes, muito para além da vida de quem as proferiu, escreveu ou viveu. Talvez no Natal devamos apostar mais nestes presentes eternos, que não poluem o meio ambiente e confortam o coração.