De entre os ditos que a criatividade popular nos ofereceu, ‘quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré é dos que melhor reflete o nosso peculiar modo de ser. Expulsos os judeus, perdidos o conhecimento e a ambição, parece ter caído sobre nós uma maldição: sereis sapateiros toda a vida, mas não ireis além da chinela.
O fascínio pelas PME é paradigmático: promovidas e apontadas como exemplo, estão bem na dimensão do bonsai: aceitáveis para decorar, péssimas para produzir.
Logo em 1975, foi constituído o IAPMEI – Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação, ‘um parceiro estratégico público de apoio às micro, pequenas e médias empresas’. Parceiro? Estratégico? E onde estão, afinal, ‘o crescimento empresarial e a internacionalização’ que nos prometeram? Nada! E o contributo para o PIB? Quase nada!
O culto das PME fez saltar o seu número de 388.892, em 1990, para 1.260.436, em 2017, uma para cada nove portugueses: uma overdose! Serão precisas assim tantas? Não será que a maior parte delas só está a emperrar a economia… arrastando prejuízos, não pagando impostos e consumindo recursos que seriam mais úteis se aplicados em empresas competitivas?
Claro que nem tudo é mau! Ninguém duvida que é mais fácil encontrar padrões elevados de produtividade nas PME Excelência do que nas empresas do PSI 20, mas são ilustres exceções. Os dados da Pordata estão aí para mostrar a realidade: 99,9% das empresas nacionais são micro, pequenas ou médias, com uma média de trabalhadores inferior a 2,5, que indicia a debilidade do nosso tecido empresarial.
E no campo das grandes empresas o panorama não é mais animador. Das 6 antigas estrelas do PSI 20 – PT, EDP, BCP, BES, CIMPOR e GALP – apenas a EDP e a GALP foram poupadas aos maus tratos dos governos, o que suscita uma outra questão: não será avisado assumir um plano de incentivos para as grandes empresas, tendo em vista estimular fusões, aquisições e aumentos de capital, de modo a que novos ‘campeões’ possam surgir e aspirar a competir numa liga superior?
Mas não! Cá na terra o que dá é malhar nos grandes… não vá ‘o sapateiro atrever-se a ir além da chinela’.
Vinte e dois governos constitucionais especializaram-se a fazer tiro ao alvo a todos os que se destacaram da mediania.
Foi esta preferência que os levou a sabotarem a OPA da SONAE sobre a PT, para a afundarem logo a seguir; a darem luz verde ao grupo de falidos que assaltou o BCP e o ofereceu à Sonangol; a entregarem a EDP e a REN à República Popular da China; a permitirem que a FIDELIDADE fosse desnatada, a CIMPOR retalhada e a TAP e os CTT enfraquecidos.
Os tratados não permitem ajudas estatais. Tudo certo! Porém, com as mesmas regras, Espanha fortaleceu os seus campeões e usou a diplomacia para os tornar global players. O segredo é simples: os governos de Madrid só se metem na vida das empresas para as defenderem e tornarem mais fortes, jamais para as destruírem… ou para disporem delas em função de interesses políticos e pessoais.