Embora as pessoas estejam preocupadas com os impactos das guerras comerciais, da instabilidade política, da mudança nas políticas comerciais, da agitação social e do populismo, existem outras forças muito mais críticas na Globalização.
O comércio internacional é determinado pelas decisões de fornecimento de milhões de empresas. Essas decisões são dirigidas, por sua vez, por padrões de procura, avaliações de risco e evolução da tecnologia. E, há padrões novos que estamos a observar depois da Crise de 2008 e da Grande Recessão, que não eram perceptíveis no período da crise: o comércio internacional de mercadorias tem vindo a diminuir nesta última década e, em contrapartida, assistimos ao crescimento dos serviços no comércio mundial, o que, acredito, se acentuará na próxima década.
Consequentemente, os bens produzidos pelos países são cada vez mais para consumo interno ou regional e as exportações estão a concentrar-se mais nos serviços.
Isto significa duas coisas: por um lado, o comércio tende a regionalizar-se e os bens a ficarem onde estão os consumidores – por exemplo, há cada vez mais consumidores na China e na Índia, pelo que esses países exportarão menos e produzirão mais para os seus mercados internos; e, por outro lado, a própria tecnologia acentuará essa disrupção, o que significará que os investidores não vão mais procurar países de baixos salários, mas sobretudo, concentrar-se-ão nos países onde há uma força de trabalho qualificada em engenheiros e um ecossistema de startups.
Outra macrotendência para a década é que o comércio de serviços está a mudar a própria globalização e as relações económicas internacionais. Cada vez falaremos menos em comércio de automóveis e de produtos agrícolas e cada vez mais passaremos a falar da exportações de serviços jurídicos ou de direitos, de serviços financeiros ou de contabilidade, de serviços de transporte, de turismo, de educação ou de saúde (neste articular, por exemplo, assistência médica remota).
A própria ideia de mercadoria vai modificar-se, atenuando a diferença entre mercadorias e serviços: um automóvel incorpora sobretudo serviços de design, de contratos e de proteção de direitos de autor ou serviços financeiros, de marketing e de transporte, sendo, no preço final, quase irrelevante o custo da sua construção – cada vez mais entregue a robots e fábricas de baixa mão-de-obra.
Ou seja, aquilo que foi a vantagem alemã ou chinesa e a desvantagem de Portugal, no último ciclo da globalização, pode tornar-se na maior vantagem competitiva de Portugal, assim saibamos travar ímpetos ideológicos que nos mantêm agarrados aos padrões da 2ª Revolução Industrial e evitemos as tentações de alinhar na última moda política, esquecendo que o bom governo é aquele que pondera valores e sobretudo, decide em função de boas práticas e dos acquis da ciência. Por exemplo, as medidas em defesa dos animais (o caso do abate de cães, por exemplo) em manifesto prejuízo da saúde pública, são disparates que não se detectam imediatamente, mas cujas consequências o País vai pagar dentro de cinco ou dez anos.
Mas, o mais importante é sempre a formação e a educação. Não é possível continuar a pautar o licenciamento das universidades por critérios políticos, contra o ensino privado, apenas para criar mais oportunidades no ensino público que, como no caso dos hospitais, é também mais caro, mais elitista, mais corrupto e menos escrutinado. O domínio que os preconceitos ideológicos marxistas ainda exercem na Administração Pública, na Saúde e sobretudo, na Educação ameaçam a competitividade do País e comprometem o nosso futuro.
Ainda este ano. O ensino do turismo e da gestão hoteleira foi, até hoje, praticamente feito por universidades privadas, para além das quatro boas escolas de hotelaria do Turismo de Portugal. Um sucesso único que garantiu a qualificação dos portugueses. Mas este ano, por mero preconceito ideológico, o Estado, dominado pelos socialistas e comunistas, tem estado a encerrar escolas e cursos de turismo nas Universidades privadas, sem que uma única notícia saia nos jornais, demonstrando, aliás, o medo que se instaurou na sociedade portuguesa.
Nunca, nem durante o PREC, o sector do turismo foi nacionalizado e por isso, também, foi aquele que mais resistiu a todas as crises e à catástrofe da governação económica desta 3.ª República e o que mais cresceu.
Agora, que a globalização muda e nos favorecerá, a esquerda quer também tomar conta das escolas de turismo, usando a formação para infiltrar o sector, como aconteceu nas Forças Armadas, na Justiça, na Medicina ou na Engenharia, provocando os descrédito dos Militares, a crise na Justiça, o colapso do Serviço Nacional de Saúde e a desindustrialização de Portugal – a benefício da Alemanha e da Inglaterra para onde empurramos quadros qualificados.
Vamos permitir que a esquerda nos roube também a próxima década?
Rui Teixeira Santos
Professor universitário