Que têm os discursos de Natal do Cardeal Patriarca de Lisboa e do Papa em comum? Onde se cruzam as suas mensagens? Há um denominador comum nas suas palavras e que se encontram tantas vezes ocultas nas nossas notícias e nas nossas consciências: a violência e a perseguição contra os cristãos no mundo.
Gostava de olhar para o dia de Páscoa deste ano e de percorrer os diferentes acontecimentos durante o ano de 2019. Para isso servi-me das notícias da Fundação Ajuda à Igreja (FAIS) que Sofre que publicou recentemente o seu Relatório sobre a Liberdade Religiosa.
A notícia fez abertura de todos os jornais televisivos: oito bombas detonadas em três igrejas cristãs e em quatro hotéis no Sri Lanka. Morreram cerca de 258 pessoas e mais de quinhentas ficaram feridas. Sabe porque é que este acontecimento foi motivo de notícia? Porque era dia de Páscoa? Porque atacaram Igrejas? Sim, também! Mas principalmente, porque no meio dos mortos havia cinquenta europeus e americanos e os terroristas do Estado Islâmico sabiam que deste forma o mundo ocidental olharia para estes atentados. Precisamos de revisitar todo o ano de 2019 para percebermos porque é que este fato é relevante.
Natal Ortodoxo. 7 de Janeiro. A segurança está apertada no Egipto. Todos têm na memória os atentados de Novembro, que causaram sete mortos, quando vários terroristas abriram fogo contra um autocarro com peregrinos cristãos que regressavam de mosteiro de São Samuel.
Também em Janeiro, no Egipto são fechadas quatro igrejas pelas autoridades policiais por causa das manifestações que têm ameaçado as comunidades cristãs em diversas aldeias. Cinco dias depois, um novo atentado à bomba, mas agora nas Filipinas, na catedral da ilha de Jolo, causa vinte mortos e várias dezenas de feridos. Na República dos Camarões, o Boko Haram ataca uma missão para sequestrar os sacerdotes que viviam na paróquia.
Em fevereiro, o Boko Haram mata sessenta pessoas. No estado do Uttar Pradesh, India, cresce a intolerância para com os cristãos. Alguns foram espancados violentamente e queimados vários exemplares da bíblia e uma imagem da Virgem Maria. No Burkina Faso, um missionário espanhol, o padre António Fernádez, de 72 anos, foi assassinado com um tiro.
Março abre com a notícia de um padre esfaqueado, durante a missa, no Canadá. Trata-se do padre Glaude Grou, de 77 anos, reitor do Oratório de São José. Na República dos Camarões, o padre Toussaint Zoumalde, é assassinado quando regressava à sua comunidade. A notícia parece estranha, mas é verdadeira. Em França, mais de uma dúzia de igrejas são saqueadas e vandalizadas, durante a segunda semana de Março. Pouco depois, coincidência, ou não, arde a Catedral de Notre Dame de Paris. Costa de Marfim vê profanadas várias igrejas num período muito curto de tempo. No Paquistão, centenas de cristãos veem-se obrigados a porem-se em fuga depois de falsas acusações de blasfémia.
Uma freira portuguesa, a viver na Siria, denuncia, em Abril, ataques quase diários contra uma vila cristã de Mhardeh. No Bangladesh é sequestrada uma jovem cristã. Serviços de Segurança franceses dão conta que são cada vez mais frequentes os actos de vandalismo contra igrejas em França. Pensa-se que sejam três por dia.
Ainda só percorremos quatro meses e já é visível o número de atentados no mundo inteiro contra os cristãos. Em África, na Ásia, mas também na América e na Europa há semanalmente ataques diretos a símbolos cristãos e aos cristãos propriamente ditos. Se passarmos com tempo as notícias que existe na FAIS poderemos constatar claramente que há muitas notícias que não são conhecidas do mundo ocidental, porque abafadas conscientemente.
Pároco na Igreja de São Cristóvão