Diz-se que os melhores casamentos são aqueles em que 1+1=1 pela simbiose entre dois seres que voluntariamente se uniram.
No ténis essa é a fórmula dos verdadeiros especialistas na variante de pares, mas, paradoxalmente, muitas vezes o sucesso está em saber combinar o 1+1=2.
Por outras palavras, a melhor dupla é muitas vezes aquela que consegue aproveitar as características individuais de cada um dos parceiros, que se complementam sem nunca se fundirem um no outro.
Na semana passada mostrei como na Taça Davis e nos Jogos Olímpicos muitos dos melhores resultados de pares têm sido obtidos não por especialistas da variante mas por dois jogadores de singulares que decidem também jogar pares.
O melhor jogador de pares que vi na vida foi o norte-americano John McEnroe e o seu registo na Taça Davis é um fabuloso 18-2 (vitórias e derrotas). Dizia-se que o melhor par do Mundo seria sempre ‘Big Mac’ com qualquer outro ao seu lado.
A dupla mais eficaz que também vi foi a dos esquerdinos franceses Henri Leconte e Guy Forget, invencíveis na Taça Davis (11-0).
Ora McEnroe, Leconte e Forget destacaram-se mais nos singulares do que nos pares, mas eram melhores do que os especialistas de duplas da sua época, tal como se viu recentemente com Rafa Nadal e Novak Djokovic nas Finais da Taça Davis.
No ATP Tour, onde a consistência é mais importante, os especialistas brilham mais. Os colombianos Juan Sebastian Cabal e Robert Farah são os n.º1 nos dois rankings mundiais de pares (o individual e o de equipas), mas, para mim, a dupla que se exibe a um nível mais alto é a dos franceses Nico Mahut e Pierre Hugues Herbert… dois jogadores de singulares.
Em Portugal o melhor jogador de todos os tempos é João Sousa, tanto em singulares como em pares.
Indaguei o treinador de João Sousa, Frederico Marques, sobre este fenómeno, por ser um estudioso da modalidade e apesar de ser impossível reproduzir aqui tudo o que aprendi com ele, deixo-vos algumas pérolas:
«O ténis evoluiu de tal maneira em termos físicos, velocidade de bola, tecnicamente e mentalmente que aproximou ainda mais os singulares dos pares.
Nos singulares há cada vez menos tática. (…) Um ténis muito mais agressivo, com menos trocas de bolas, onde servir, responder e a primeira bola após servir e responder são chaves. (…) Nos pares sempre foi exatamente isto.
Em geral, quanto melhor jogador de singulares, melhor jogador de pares.
Tem de ser mais completo a todos os níveis para poder estar lá em cima no ranking de singulares».
A época de 2019 foi fascinante. A de 2020 está quase a começar.