Um homem dependente de uma cadeira de rodas decidiu bloquear a passagem de um autocarro, em Lisboa, em forma de protesto, depois de lhe ter sido negada a entrada.
A situação ocorreu esta quarta-feira, de madrugada, na Praça Martim Moniz. Sérgio Alexandre Lopes partilhou a sua história na sua conta de Facebook. Segundo o testemunho do homem, a rampa do autocarro 208 estava avariada e como solução para o problema, o motorista sugeriu-lhe esperar pelo autocarro seguinte.
"O autocarro chegou às 02h40 e a rampa estava avariada. A temperatura era de cerca de nove graus e a primeira coisa que o motorista disse, pela janela, depois de ter tentado acionar umas seis vezes o dispositivo, foi: "vai ter que esperar pelo próximo", pode ler-se na publicação.
"Perguntei-lhe qual a alternativa que a Carris me daria e ele insistiu que eu teria que "esperar pelo próximo". Os passageiros foram informados, por nós, do motivo do bloqueio, da descriminação que a Carris promove diariamente, do descaso com que são tratadas as pessoas com mobilidade reduzida. Um dos passageiros que mais apoiou a nossa decisão, chamou a PSP", pode ler-se.
"Entretanto, com autocarro impedido de avançar, tenho todo o tempo para descrever a situação aos agentes da PSP. Reforço que a situação é constante e, naquele contexto, tudo se torna ainda mais grave. Expliquei que tenho o mesmo direito que todos os passageiros a viajar naquele autocarro, que tenho passe, que a Carris incumpre a Lei 46/2006, que proíbe e pune a discriminação em razão da deficiência e da existência de risco agravado de saúde, e que a alternativa que a Carris me estava a dar era um autocarro mais de 1h30 depois, sem garantias de ter uma rampa funcional", continua a explicar.
Além de Sérgio Alexandre Lopes e do homem e da mulher que o acompanhavam, várias foram as pessoas que se juntaram e ele em frente ao autocarro e impediram o motorista de prosseguir viagem. Depois de os agentes da PSP terem falado com o motorista e entrado em contacto com a Carris, o motorista informou o homem que um autocarro já estava a caminho, só para ele, e que não iria efetuar paragens de modo a chegar rápido e "compensá-lo".
"Logo que o autocarro “reservado” chegou, o motorista do primeiro queria ir embora, os agentes tentaram dissuadir-nos, mas, mais uma vez, por falta de confiança na Carris, foi impedido de ir até que a rampa fosse testada. A rampa estava… avariada, caros amigos", lamenta Sérgio Alexandre Lopes. "O segundo motorista, visivelmente incomodado, garantiu que testara a rampa à frente do chefe e "estava boa (…) Entretanto, a rampa deste último conseguiu ser aberta manualmente e entrei", continuou.
O segundo autocarro acabou por efetuar o transporte de todos os passageiros que seguiam no primeiro e para Sérgio Alexandre Lopes, este foi o pior momento da noite: "Já comigo dentro do autocarro, entram os restantes passageiros e nem todos estavam “do meu lado”. Tive que ouvir “só tinha era que esperar por um que viesse a funcionar”, “eu também tenho problemas e sofro com frio”, etc."
"Não somos cidadãos de segunda. Não deixarei que me tratem como se fosse. Não sou o primeiro a fazer este tipo de ação, mas não podemos deixar que situações como esta se repitam, a cada hora, sem fazermos nada. Agradeço ao grupo de passageiros que se juntou a mim. Agradeço aos agentes da PSP que, desde o início, disserem que não nos iam deter pela validade da nossa posição ali", concluiu.