Quando Augusto Santos Silva afirma que um dos problemas no tecido empresarial português é «a fraquíssima qualidade de gestão das empresas» e que «não foi… intenção fazer generalizações… ou denegrir seja quem for; a minha única preocupação é não disfarçar e identificar os problemas», a gravidade não está na incompetência destas serem as palavras de um ministro dos Negócios Estrangeiros que deveria promover Portugal. Está na evidência que ele ainda não identificou os reais problemas dos empresários.
Em Portugal, é difícil encontrar um empreendedor que trabalhe menos de 12 horas por dia, sobrevivendo com criatividade para fazer as omeletas sem ovos que vão aguentando a economia nacional de um país sem capital. Além disto, os empresários estão condenados a enfrentar três monstros: a burocracia, a corrupção, e a lentidão da Justiça. Na burocracia, navegam por exigências impermeáveis à racionalidade, agravadas por alterações sistemáticas da lei que os apanham com multas pesadas ou graves atrasos processuais sempre que se despistam. Na corrupção, convivem com a permanente dúvida sobre se os concursos públicos são a sério, ou se estão talhados à medida de quem os governantes querem. Nos tribunais, veem-se a braços com uma lentidão que só serve os poucos que a sabem navegar, arrastando para o fundo todos os outros, mesmo se não forem culpados.
Talvez seja difícil para Santos Silva entender os empreendedores. Historiador, sociólogo, professor universitário, deputado, e ministro de 5 Governos socialistas, incluindo os 2 de Sócrates, não se lhe conhece uma empresa. Mas talvez não seja inocente ser Santos Silva que, há pouco, tecia a fábula de ‘não ter sido Sócrates quem chamou a Troika’, que, agora, se apresente a fabricar narrativas de incompetência sobre os empresários, uma das bases do PSD.
Na década de 70, o PSD foi concebido por quem acreditava que a sociedade civil merecia vida própria, além Estado, agregando naturalmente os espíritos mais empreendedores. Foram eles que fundaram um espaço político com a dupla missão de, por um lado, defender a liberdade da iniciativa privada na sociedade civil, e, por outro lado, capacitar o Estado com serviços públicos eficientes para garantir a igualdade de oportunidades para todos.
Hoje, o Governo socialista encaminha o país no sentido contrário, com um Estado que ocupa, cada vez mais, todos os sectores da sociedade civil, e com os serviços públicos a rebentar, reduzindo a qualidade de resposta a quem precisa. Por Portugal, o PSD tem obrigação de se organizar para inverter este rumo, apresentando uma alternativa a este socialismo de narrativas, pleno de faz-de-conta, onde ‘o que parece, é’ e onde o malabarismo mediático de António Costa é senhor e rei.
Em Janeiro, o PSD vai a eleições com a responsabilidade de escolher o próximo Primeiro-Ministro de Portugal. Temos três sociais-democratas, com diferenças de personalidade e de experiência de vida. Para mim, até hoje, Rui Rio deu mais provas de ter competência técnica para enfrentar António Costa em debates e de ter coragem para enfrentar a verdade, mesmo quando é inconveniente para qualquer narrativa que se queira criar. Mas, acima de tudo, a partir de Janeiro é preciso que o PSD saia reforçado para, finalmente, começarmos a virar a página do socialismo em Portugal.