No espaço de uma semana, quatro médicos agredidos. Isto, até à hora em que escrevo.
Qualquer tipo de agressão, verbal ou física, exercida sobre pessoas que têm por função interagir com o público é sempre intolerável. Tratando-se de quem tem por missão prestar serviços de comprovada necessidade, muitas vezes a desoras, estes incidentes reclamam uma enérgica reação das autoridades, das associações de classe e da sociedade em geral.
Agressões a médicos, enfermeiros, professores, polícias, bombeiros não podem ser vistas como meras ocorrências, para registo na folha do dia. A agressão consumada, ou a simples ameaça, configuram ataques à sociedade, cabendo a esta o exercício da legítima defesa: ao Ministério Público acusar e aos tribunais sancionar, na máxima latitude permitida pela lei. E não pode haver aqui aproveitamentos corporativos, tipo ‘é a consequência da falta de profissionais’, como tantas vezes fazem os sindicatos e as ordens.
De tão frequentes, as agressões são noticiadas com uma souplesse que ofende quem entende que compete ao Estado adotar medidas que defendam os serviços públicos e protejam os seus servidores, a bem dos próprios e de quem precisa deles. E a brandura dos costumes não pode ir até à impunidade de quem agride pessoas indefesas.
Pela frequência, o caso dos professores é revoltante: nem os sindicatos se incomodam, nem o Ministério da Educação atua, nem o Ministério Público leva os seus esforços para lá da abertura do expediente ‘chapa 5’ para um caso de ofensas corporais, como se fora uma briga do futebol.
Das autoridades escolares… nada! Das associações de pais… zero! Notícia mesmo é quando o professor aplica um tabefe ao aluno que lhe faltou ao respeito. Aí, sai a artilharia toda: as aberturas dos telejornais falam de agressão brutal, e avançam as queixas na Polícia e nos tribunais.
Ainda há poucos meses os jornais e as televisões titularam: Os Bombeiros Voluntários de Borba foram atacados e agredidos, dentro do próprio quartel, por um grupo de cerca de vinte pessoas. E assim se despachou o assunto: «cerca de vinte pessoas» assaltam um quartel dos bombeiros, agridem quem lá está, mandam dois para o hospital, mas… no pasa nada! Só o SOL precisou que eram «vinte pessoas de etnia cigana». Tratar o tema? Livra!
Nos últimos dias do ano, mais umas ‘pessoas’ impacientaram-se e, vai daí, trataram de sovar os médicos de serviço. As notícias foram pouco do mais que pífias. E a reação da Ordem, dos sindicatos, das autoridades e da senhora ministra foi semelhante à de Bruno de Carvalho, a propósito das agressões em Alcochete: «É chato!».
O ano que findou ficará como aquele em que a violência doméstica foi mais veementemente noticiada. Que nunca se poupe nas palavras para condenar os agressores. Mas que se use a mesma determinação para levar à Justiça os autores dos crimes que vitimam quem cuida da nossa saúde, da nossa segurança e da educação dos nossos filhos. Já agora, também de quem nos serve a bica…