A mamã volta sempre, mas mais logo

Se lhe disseram que a mãe voltará em momentos, a criança fica ansiosamente à espera. E quando se apercebe que a mãe não regressa, fica triste e desiludida

Para algumas crianças é difícil voltar à escola depois das férias. Já habituadas ao calor da casa, ao ritmo lento dos dias e ao miminho constante, ver os pais a deixá-los ali e irem embora pode ser um momento de grande tristeza. Este sentimento em crianças muito pequeninas pode ir de um beicinho de cortar o coração à maior berraria com direito a um estrebuchar exuberante. Ninguém gosta de assistir a estes cenários angustiantes e muitas vezes a forma mais fácil – e também a mais errada – de resolver o problema no imediato é contorná-lo. Embora haja maior sensibilidade e cuidado neste tema do que há uns anos, são ainda muitos os adultos que mentem descaradamente ou omitem a ausência dos pais: ‘Saia agora discretamente que vou distraí-la para ela não ver’ ou ‘A mãe vai só ali buscar uma coisa e volta já’. 

Embora nem sempre seja evidente e ainda haja quem subestime a capacidade de entendimento das crianças, estas são exímias controladoras do tempo que passam sem os pais. Não é por estarem distraídas naquele momento que se esquecem que a mãe existe ou que não se apercebem que a mãe não voltou logo a seguir mas só no final do dia. Em vez de serem apaziguantes, estas mentiras, que de inocentes não têm nada, podem ser prejudiciais. Se a mãe pode desaparecer de um momento para o outro sem deixar rasto e sem aviso prévio e quando a vão procurar não a encontram, então isso poderá acontecer em qualquer outra altura em que a criança menos espere, gerando medo, insegurança e ansiedade.

Por outro lado, a criança não se esquece que lhe disseram que a mãe voltará em momentos e fica ansiosamente à espera. À medida que se apercebe que a mãe nunca mais regressa, pode começar a ficar triste e desiludida. Além de que não saberá com o que contar quando da próxima vez lhe disserem que será por um instante.

Numa escola em que trabalhei, muitas vezes as crianças desabafavam que os pais se esqueciam delas e que só as iam buscar muito tarde. Os pais não chegavam tarde, chegavam à hora certa, só que não era a altura do dia para a qual tinham sido preparadas pelos pais ou pelos educadores. Outras vezes assisti a hipotéticos telefonemas para pais que diziam do outro lado da linha que iriam logo de seguida. O resultado na cabeça dos mais pequenos era o mesmo.

As crianças são atentas e devemos respeitá-las com um cuidado acrescido porque estão ao nosso cuidado e confiam em nós. Embora por vezes possa não ser fácil vê-los tristes e a chorar, têm capacidade para irem percebendo que os pais vão, podem demorar, mas voltam, como prometeram. A separação pode ser triste e dura, mas é um processo que devemos encarar com naturalidade. Se nem os adultos são capazes de a enfrentar, como lidarão as crianças com ela?

Explicando com tempo, calma e carinho vão aprendendo a separar-se de forma saudável, naquele momento e em situações futuras ao longo da vida.

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