Tomás Correia, o antigo presidente da Associação Mutualista Montepio Geral, e o construtor da Amadora José Guilherme, assim como o filho deste, Paulo Guilherme, são três dos alvos de um inquérito do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa que está a passar a pente fino uma lista de financiamentos concedidos Caixa Económica Montepio Geral (CEMG).
Nesta investigação estão em causa crimes de burla qualificada, branqueamento e fraude fiscal qualificada, tendo ontem sido cumpridos 15 "mandados de busca e apreensão, em Instituições Bancárias, na sede social de uma associação, em domicílios e em sedes de empresas", explicou a PJ.
Na mira dos investigadores estarão empréstimos do Montepio ao conhecido empreiteiro, assim como ao seu filho. São vários os milhões que foram emprestados alegadamente sem garantias na gestão de Tomás Correia a José Guilherme, suspeitando-se que a prenda de 14 milhões que este último deu a Ricardo Salgado, em troca das portas que o banqueiro lhe abriu em Angola, terá tido origem nestes empréstimos – a ‘liberalidade’ paga foi conhecida em 2013, depois de o jornal i ter revelado retificações fiscais de milhões feitas pelo ex-presidente do BES antes de ir depor no processo Monte Branco.
Mais, o dinheiro dos financiamentos a José Guilherme e família terá ainda servido, acredita investigação, para comprar unidades de participação do Fundo de Participação da própria CEMG, algo que para o Banco de Portugal se traduz num conflito de interesses. De modo geral, o aumento de capital da Caixa Económica do Montepio e a constituição de capital social do BNI Europa está sob a mira dos investigadores.
O SOL sabe ainda que há outros grandes clientes cujos financiamentos estão a ser investigados por suspeitas dos mesmos crimes.
A investigação, que terá começado em 2015, está em segredo de justiça, mas num comunicado conjunto da Procuradoria-geral da República e da Polícia Judiciária foi referido que as buscas da última quinta-feira incidiram "sobre um conjunto de clientes de instituições financeiras e de entidades suas detentoras, com o propósito de recolha de prova relativamente a operações bancárias realizadas por clientes entre 2011 e 2014, bem como documentação relacionada com estas operações".
A casa de Tomás Correia – que deixou o cargo de presidente da Associação Mutualista no dia 15 de dezembro – foi um dos locais visitados, uma vez que para a investigação será uma das peças centrais de todo o caso.
Ainda no mesmo dia, em declarações ao DN, Tomás Correia disse desconhecer o motivo das diligências da Polícia Judiciária: "Não faço ideia do que se passa".
Já o banco confirmou, através de comunicado, as buscas de que foi alvo: "O Banco Montepio informa que se realizaram esta quinta-feira, dia 16 de janeiro, buscas nas instalações. Mais se informa que, conforme o teor do comunicado publicado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), se trata de diligências a propósito de operações de clientes, que reportam a factos ocorridos entre os anos 2011 e 2014".
E acrescentou que vai cooperar com os trabalhos em curso: "A instituição cumpre escrupulosamente os seus deveres de colaboração com as autoridades".
Já Carlos Tavares, chairman do banco Montepio, também reagiu ao Eco, afirmando que estão em causa factos do passado. "Sinto-me tranquilo", disse, lembrando que "não são factos atuais", nem "têm nenhuma implicação na atividade dos clientes do Montepio".