«Ameaça existe». A ministra da defesa alemã, Annegret Kramp-Karrenbauer, confirmou desta forma as informações que davam conta que Donald Trump ameaçou Alemanha, Reino Unido e França com a imposição de tarifas de 25% sobre a importação de automóveis, caso estes países não ativassem o mecanismo de resolução de problemas do acordo nuclear iraniano. Esta decisão deverá decretar o fim definitivo do pacto assinado em 2015 entre estes países europeus e o Irão – e que ainda contou com a participação de Estados Unidos, Rússia e China –, depois de já Washington ter denunciado o acordo em 2018.
A 14 de junho de 2015, este conjunto de potências nucleares haviam assinado o Plano de Ação Conjunto Global, que tinha como principal objetivo travar a produção de urânio enriquecido em Teerão (utilizado como combustível de reatores de armamento nuclear). Em 2018, a decisão de Donald Trump de retirar os Estados Unidos deste acordo, assinado pelo seu antecessor Barack Obama, e de voltar a aplicar as sanções que haviam sido levantadas contra o Irão, fragilizou irremediavelmente o documento, antecipando, logo aí, um cenário de crise no setor nuclear. A 5 de janeiro deste ano, Teerão retaliou com o anúncio da suspensão dos limites de produção de urânio enriquecido e, na passada quinta-feira, o presidente iraniano Hassan Rohani admitiu mesmo que o país está atualmente «a enriquecer mais urânio do que antes» da assinatura do tratado internacional.
Alemanha, Reino Unido e França já notificaram a União Europeia dando conta do incumprimento do Irão, o que pode ser interpretado como o primeiro passo para uma formal, da qual resultaria a aplicação de novas sanções financeiras dirigidas a Teerão.
Em comunicado conjunto, os três países europeus aproveitaram para reiterar os compromissos assinados em 2015 e para lamentarem a saída dos Estados Unidos do pacto. A notificação que aponta às recentes opções nucleares do Irão é justificada por considerarem que o país «continuou a quebrar restrições chave impostas» no acordo. «As ações do Irão são inconsistentes com as disposições do acordo e apresentam implicações crescentemente graves e irreversíveis», lê-se na nota divulgada à imprensa.
As notícias a dar conta que esta tomada posição de Berlim, Londres e Paris resultou de pressões e ameaças exercidas por Donald Trump surgiram no Washington Post e foram agora confirmadas por Kramp-Karrenbauer, em Londres.
A reação iraniana não se fez esperar e, horas depois, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Javad Zarif, escreveu no Twitter que os três países europeus envolvidos «venderam os restos [do acordo] para evitar novas tarifas de Trump».