Sou a favor da amamentação. Até aos seis meses em exclusividade e depois desse período até quando fizer sentido, para a mãe e para o bebé. No entanto não sou contra não amamentar e penso que cada um escolherá a opção mais acertada dado o seu entendimento, condições e contexto. Também não sou contra amamentar em público. Sou sim, contra amamentar em público à descarada.
Além de todos os benefícios a nível físico e emocional, amamentar tem a grande vantagem de ser extremamente prático. Naturalmente e sem o menor trabalho, o leitinho do bebé é, além de gratuito, totalmente adequado às suas necessidades, está sempre pronto, é facilmente transportável, não requer lavagens e esterilização de biberões e encontra-se à temperatura certa, o que dispensa também aquecedores, malas térmicas ou preocupações. Naturalmente o bebé terá muitas vezes necessidade de ser alimentado fora de casa, o que deverá ser feito de forma descontraída, natural… e discreta.
Há já muitas mães que têm o cuidado de colocar uma fralda ou um avental de amamentação para alimentar os seus filhos em público. Não custa nada, o bebé fica feliz na mesma, a mãe resguardada do olhar e curiosidade dos outros, e estes continuam nas suas vidas. Mas há ainda muitas outras que vivem este ato com tanta naturalidade que acham que a descrição é absurda e que quem passa, tal como elas, não tem de ter problemas com um ato tão espontâneo e necessário na natureza.
Não me refiro a mães que culturalmente sempre viveram com maior naturalidade vários aspetos da vida. Mas sobretudo àquelas que parecem querer afirmar a amamentação, por vezes até bem tarde, através de atitudes quase provocatórias, como quem diz: ‘Tenho muito orgulho em amamentar o meu filho, tenho o direito de o fazer aqui descontraidamente ante o vosso olhar e vocês não têm de ficar desconfortáveis ou aborrecidos, porque é um ato saudável e natural’.
Bom, assim de repente vêm-me à cabeça uma série de atos necessários e naturais que não expomos em público. Assim como não andamos a exibir partes do nosso corpo no meio da rua a quem passa.
Não é correto pensar que os outros não têm de se incomodar com aquilo que consideramos inofensivo. Cada um tem o direito de não ser sujeito a situações embaraçosas ou a ver aquilo que não quer. Não é grave, não é feio, não é traumatizante, mas pode preferir simplesmente não ver. Como eu, por exemplo, uma vez vez preferia ter tido uma refeição tranquila sem ter de assistir, a poucos palmos de mim, a uma mãe que tentava amamentar o seu filho de dois ou três anos de forma excessivamente descontraída enquanto ele se debatia para sair dali.
Com um bocadinho de bom senso podemos perceber que não muda muita coisa se formos um pouco mais discretos. E quem está de fora pode agradecer.
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