O mundo comoveu-se com os incêndios florestais australianos e imagens de áreas queimadas equivalentes a países europeus, 29 mortes de seres humanos e a dantesca estimativa de mil milhões de animais incinerados.
O meio privilegiado do ténis – que nesta altura do ano viaja em peso para Perth, Brisbane, Sydney, Adelaide e Melbourne – foi confrontado com o horror e chegou-se à frente para ajudar.
O constrangimento invadiu alguns jogadores em exercerem a sua profissão, que, no fundo, insere-se no setor do entretenimento.
Mas rapidamente perceberam que os australianos, bem ao jeito da mentalidade anglo-saxónica, enfrentam os problemas de frente. Tal como em plenos bombardeamentos de Londres na segunda grande guerra mundial os teatros não fecharam, também neste caso a Austrália quis prosseguir com o seu Open de ténis, o seu maior evento desportivo anual.
Em momentos de luto, o entretenimento eleva os espíritos. Os jogadores entenderam a mensagem e têm-se empenhado ainda mais dentro do court.
Fora do campo têm realizado a maior operação de sempre de angariação de fundos no ténis.
Nick Kyrgios, quando viu a sua Camberra sob um ar irrespirável, chorou e anunciou doar 200 dólares australianos por cada ás. Em 2019 disparou 597 ases.
Desafiou a Federação Australiana de Ténis a fazer o mesmo e a resposta foi positiva – 100 dólares por cada ás de qualquer jogador(a).
De repente, todos os jogadores começaram a contribuir. Alex de Minaur, como faz menos ases, ofereceu 250 dólares por cada um; Belinda Bencic, como sofre mais duplas-faltas, optou por essa solução; e a criatividade foi enorme.
Rafa Nadal e Roger Federer juntaram-se numa doação de 250 mil; a Federação Internacional de Ténis uniu-se ao Comité do Grand Slam para atribuir mais 400 mil; Serena Williams doou todo o prémio de 43 mil por vencer em Auckland; John McEnroe brinda mil por cada set ganho por Kyrgios; e Sascha Zverev dedica 10 mil a cada ronda que passar em Melbourne e se sagrar-se campeão do Open da Austrália entregará os 2,5 milhões de euros de prémio ao fundo da Cruz Vermelha australiana de financiamento do combate aos fogos.
Só a jornada de exibição de há uma semana no Open da Austrália rendeu quase três milhões de euros!
Há um ano desafiei o Millennium Estoril Open a criar uma homenagem aos nossos militares, como é habitual em eventos desportivos nos Estados Unidos.
Mas agora, adoraria que o nosso maior torneio imaginasse uma iniciativa de apoio aos bombeiros portugueses que todos os anos se arriscam pela preservação do nosso país.