No rescaldo do interrogatório ao antigo ministro da Defesa Azeredo Lopes, foi a vez de esta terça-feira António Laranjinha ser ouvido perante o juiz Carlos Alexandre, mas este optou por não prestar quaisquer declarações ao juiz de instrução do caso de Tancos.
O dia de hoje não poderia ter sido mais diferente do de segunda-feira. Enquanto Azeredo Lopes foi ouvido num tempo recorde neste processo de sete horas, a sessão de ontem durou apenas cerca de meia hora, apesar da audição de um total de cinco testemunhas.
António Laranjinha é acusado do furto das armas de Tancos, juntamente com o antigo fuzileiro e também arguido João Paulino, que foi libertado no início da semana passada. Para além disso, é também acusado de, antes do roubo, ter servido como elo de ligação para aquilo que seria a venda do armamento a elementos do grupo terrorista da ETA.
No total, é acusado de três crimes, nomeadamente, terrorismo, tráfico de armas e associação criminosa.
Já à saída do Tribunal de Monsanto, Ana Lopes, advogada de defesa de Laranjinha, apenas disse aos jornalistas que tudo correu “conforme previsto”, visto que esta já havia anunciado previamente que o seu cliente não iria prestar declarações. Assim sendo, o arguido irá regressar ao estabelecimento prisional onde está neste momento a cumprir prisão preventiva.
A PJ desconfiou desde o primeiro instante da forma como as armas acabaram por aparecer na Chamusca e da chamada de alerta alegadamente feita para o piquete da PJ Militar a dar a localização do arsenal. E as escutas acabaram por confirmar as suspeitas.
Numa conversa entre João Paulino e um dos outros membros do gangue, António Laranjinha – um dos detidos na operação de ontem -, é referido o acordo feito com a PJM para ocultar os nomes destes assaltantes. Ao amigo, Paulino é claro: “Eles passaram… a história que passou foi que eles encontraram aquilo numa investigação que tem ligação a outras coisas, completamente… um processo de uns ciganos do Porto.” E Laranjinha mostra estar por dentro: “Sem querer apanharam aquilo…” E quando questiona Paulino se não terão mesmo envolvido o nome de ninguém do gangue, a resposta que recebe também não deixa margem para dúvidas: “Zero… zero…”
Além do processo de Tancos, António Laranjinha está ainda envolvido num outro processo ligado ao roubo de pistolas Glock na PSP de Lisboa.
António Laranjinha não foi o único a testemunhar ontem perante o juiz de instrução Carlos Alexandre. Outras cinco testemunhas, que terão sido cinco polícias que realizaram a investigação – onde existiram buscas e ações de vigilância – e uma técnica de reinserção social.
Durante o dia de hoje está marcado mais um interrogatório, desta vez ao sargento Lima Santos, que na altura dos factos era o chefe do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé.
Na segunda-feira Azeredo Lopes negou novamente ter recebido qualquer documento relativo ao roubo das armas e assumiu ter conhecimento da encenação montada pela PJM para recuperar o material.