Incontáveis vezes desde que tenho filhos várias pessoas desabafaram com alguma tristeza: ‘Está tão grande. Crescem tão depressa. O tempo passa a voar, não é?’. Já fico com vergonha de dizer que não sinto o mesmo e limito-me a sorrir. Nunca achei que o tempo passasse muito depressa no que diz respeito ao crescimento dos meus filhos. Não me parece que tenham nascido ontem ou que os mais velhos ainda há pouco tempo andassem de fralda. Na verdade parece-me que o mais velho nasceu há uma eternidade, ou há dez anos, como aconteceu na realidade, e o mais novo, que fez agora um ano, parece-me que está cá há uns longos 12 meses. Tenho a clara noção de que isto acontece porque tenho tido a sorte de estar muito tempo com eles, de os aproveitar e acompanhar o mais e melhor que posso. Com muita ginástica conseguimos que nenhum fosse para a escola em bebé e que estivessem em casa enquanto fazia sentido.
Infelizmente não é isto que acontece com a maioria das famílias e tenho ouvido histórias de vidas quase impossíveis. Muitos acordam ainda de noite, saem de casa a correr com os filhos ainda estremunhados pela mão e iniciam uma maratona que passa por esperar, entrar e sair de transportes públicos ou por se meterem no carro onde ficam todos horas no pára-arranca do trânsito. Quando finalmente chegam à escola despedem-se dos filhos ao mesmo tempo que os empurram para dentro da sala e saem a correr para o trabalho onde estão muitas vezes demasiado tempo. Há poucos trabalhos que permitam tempo de qualidade e tranquilidade fora dele. Vivemos numa sociedade em que o emprego consome a vida dos trabalhadores e das suas famílias, em que se trabalha demasiado para colmatar a falta que fazem os que estão desempregados. Faz lembrar um monstro que tem de ser constantemente saciado, e, em troca da total dedicação, o que se recebe é muito pouco. No final do dia, muitas vezes são os avós, os irmãos, a empregada ou o vizinho quem vai buscar as crianças à escola e quando os pais chegam – se é que chegam a horas de alguma coisa – entre banhos, fazer o jantar e comer o que resta é muito pouco. Quase não há espaço para outros interesses, outras atividades, para a família, para nós próprios. Não admira que haja tantas pessoas insatisfeitas…
Como podiam então as crianças crescer devagar? Como poderia o tempo não passar a uma velocidade vertiginosa se no final de cada dia é como se marcássemos um certo ao mesmo tempo que já a pensar no próximo e no final da semana? Corremos todos desenfreadamente ninguém pensa bem em direção a quê. Às férias, à reforma, ao dia em que os filhos já vão ser enormes sem que se tenha passado suficientemente tempo de qualidade com eles? Sem que se tenha brincado, conversado, visto crescer. Como aos olhos dos outros, também para muitos pais, de repente quando param para olhar para os seus filhos, descobrem-nos bem diferentes daquilo que imaginavam. Como chegaram ali? E o que aconteceu entretanto? Como recuperar tudo o que ficou por viver, para ambos? Não há como recuperar. Só tentar fazer diferente, para que a vida possa fazer mais sentido para todos.