A par do isolamento do interior que tem sido tema nos últimos tempos, há dados que indicam que quem está longe dos grandes centros urbanos – mais concretamente nas Beiras e Serra da Estrela – vive com poucas condições de habitação. Segundo um estudo do Instituto Politécnico da Guarda, “o número de família que vivem situações de grave carência habitacional na região das Beiras e Serra da Estrela ultrapassa os 30%”.
O documento será apresentado publicamente na terça-feira, a propósito do seminário sobre políticas de habitação e, em comunicado, o IPG explicou que “são muitas as famílias que residem em habitações precárias” na referida região.
O projeto identificou carências ao nível da acessibilidade, habitabilidade, saneamento e conforto térmico. Ao i, o presidente do IPG, Joaquim Brigas, explicou que “do estudo que tem sido feito no terreno, casa a casa, tem-se chegado à conclusão de que é preciso olhar de outra forma para este interior e para esta habitação”.
“Em alguns casos, pessoas idosas, isoladas, não têm sequer aquecimento. Isto não é digno para alguém de 80 ou 90 anos”, disse o presidente do IPG, acrescentando que a zona da Serra da Estrela e das Beira são “um território vasto, um território de baixa densidade, com casas isoladas e, por isso, é preciso atenção para estas situações”.
O estudo foi desenvolvido por professores e alunos do IPG através da Unidade de Investigação do Desenvolvimento do Interior. O objetivo é, segundo Joaquim Brigas, “diagnosticar as situações para que haja intervenção [das câmaras municipais] no sentido de combater estas desigualdades extremas”. “O número de pessoas a viver em situações precárias é maior do que imaginávamos”, acrescenta.
Segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, publicados em 2011, dos cerca de 42 mil habitantes da região da Serra da Estrela, 44 pessoas não tinham qualquer instalação de água, sanita, banho e aquecimento. Desse total, pouco mais 40 mil habitantes tinham todas as instalações e 475 viviam sem instalação de banho.
Já nas Beiras – que engloba a Beira Interior Norte e Beira Interior Sul –, do total de 173.746 habitantes, 96,6% tinha todas as instalações em casa, 1489 pessoas não tinham obras adequadas para tomar banho e 110 não tinham sanita, aquecimento ou banheira.
Além das temáticas da habitação e condições de vida da população, a instituição de ensino superior da Guarda está a fazer outros estudos que serão apresentados posteriormente. “Temas como a violência doméstica, a condição das pessoas em isolamento – tudo ligado à pobreza –, são a nossa principal preocupação”, explicou Joaquim Brigas.
Portugueses sem dinheiro para aquecimento
Em 2018, Portugal ocupou a quinta posição na lista dos países da União Europeia onde existem mais pessoas com dificuldades para aquecer as suas casas. Os dados foram publicados pelo Eurostat no início deste ano e concluiu-se que, durante 2018, 19,4% dos portugueses não teve capacidade financeira para fazer face aos custos do aquecimento durante os meses mais frios. Só a Bulgária, a Lituânia, a Grécia e o Chipre registaram números superiores aos de Portugal.