É uma das obras mais importantes do expressionismo e a pintura mais emblemático de Edvard Munch. O Grito, a série de quatro pinturas realizadas pelo pintor norueguês entre 1893 e 1910, é uma obra amplamente estudada e, dada a sua importância, mantida sob constante vigilância – e essa atenção terá sido preponderante na hora de verificar e estudar rapidamente um desafio que agora enfrenta: há pigmentos da tela de 1910 que estão a desvanecer-se. A descoberta foi feita por especialistas do Museu Munch, em Oslo, que estuda o fenómeno desde 2012, e noticiada na sexta-feira passada pelo New York Times.
No fundo da tela, por detrás da doca de Oslofjord, em Oslo, o céu revolve-se entre os laranjas e os azuis. Só que parte das pinceladas amarelo-alaranjadas estão agora brancas. Os especialistas estão a usar diversos meios – raios-X, raios laser e microscópicos eletrónicos – para tentar perceber o fenómeno, estabelecer uma espécie de mapa de cores que vai ajudar os conservadores no seu trabalho e ainda mostrar à comunidade científica e aos visitantes como seria o quadro acabado de sair do punho de Munch. Os responsáveis pela investigação contam com a equipa do Laboratório Científico de Análises de Belas Artes de Harlem, em Nova Iorque, liderada por Jennifer Mass. Ao diário, a especialista, que já colaborou com instituições como o Metropolitan Museum of Art, explicou que, para lá das zonas brancas que espoletaram a investigação, há outras partes da pintura na posse do Museu Munch que estão a mudar. Foram encontrados pequeníssimos cristais que estão a multiplicar-se por várias zonas da composição, desde a boca da figura andrógina central até ao céu e à água. A explicação é técnica: os nanocristais estão a ser formados devido à oxidação de sulfato e carbonato de cádmio, dois químicos utilizados, na época, na tinta amarela usada por Munch na tela.
Jennifer Mass notou ainda que os resultados desta investigação não serão apenas importantes para o futuro desta obra, mas para um conjunto de pinturas impressionistas e expressionistas, datadas de 1880 a 1920, e em que o mesmo pigmento amarelo foi utilizado.
Como já aconteceu noutras obras, em princípio não será possível restituir os tons originais através das técnicas de conservação, adiantou o jornal, mas a ideia é que os mesmos sejam “reconstruídos” de forma digital. Esta é, pelo menos, a visão de Koen Janssen, investigador do departamento de química da Universidade de Antuérpia, na Bélgica, que estudou os pigmentos em obras de Matisse ou Van Gogh. “A ideia é tentar, de forma virtual, reverter o tempo”, disse o professor ao NYT.