A polícia da Irlanda do Norte deteve esta terça-feira quatro pessoas suspeitas de estarem envolvidas na morte da jornalista Lyra McKee, há quase um ano. O seu falecimento chocou e enfureceu a Irlanda e o Reino Unido na altura, reavivando traumas dos anos prévios ao Acordo de Sexta-Feira Santa, que cessou três décadas de violência brutal e sectária na Irlanda do Norte.
Os homens em questão têm 20, 27, 29 e 52 anos e foram detidos sob o Ato de Terrorismo, em Derry, e levados para uma esquadra em Belfast onde serão interrogados, avançou a polícia norte-irlandesa.
McKee morreu com 29 anos, no dia 19 de abril do ano passado, numa área habitacional de Derry, Creggan, um local onde os residentes são maioritariamente republicanos católicos. A jornalista fazia a cobertura de um motim desencadeado por uma operação policial com o intento de apreender armas, explosivos e munições, nas vésperas das comemorações da Revolta da Páscoa, data sinónima da independência da Irlanda.
McKee encontrava-se perto de um veículo da polícia quando uma bala disparada por um republicano dissidente lhe atingiu a cabeça. Horas antes, a jornalista famosa pela defesa dos direitos LGBT descreveu a situação no local como “uma loucura absoluta”, no Twitter.
O grupo autointitulado Novo IRA – dissidentes republicanos que não reconhecem legitimidade ao Acordo de Belfast – reivindicou a responsabilidade pela morte de McKee uma semana depois, lamentando-a. Na altura, o Novo IRA enviou um comunicado ao jornal The Irish News onde alegou que a repórter foi “tragicamente morta enquanto estava ao lado das forças inimigas” – descritas como as “forças da coroa” pelos dissidentes.
A detenção surge poucos dias após a família da jornalista ter apresentado uma queixa às autoridades, questionando a atuação da polícia na noite da morte de Lyra – uma investigação separada da do homicídio da repórter.
A queixa oficial apresentada pelos seus familiares, no dia 3 de fevereiro, materializou preocupações levantadas no ano passado, quando surgiram dúvidas sobre a perspicácia da polícia ao realizar uma operação do género durante a noite. “Enquanto responsabilizamos completamente o assassino de Lyra e os seus associados, pedimos às autoridades que investiguem os aspetos da operação policial no dia 19 de abril de 2019”, disse a família.
O agente responsável pela investigação, o superintendente Jason Murphy, por sua vez, renovou o seu apelo à comunidade para partilhar informações com a polícia, esta terça-feira. “Sempre acreditei que algumas pessoas da comunidade sabem o que aconteceu e quem estava envolvido”, disse Murphy. “Percebo que as pessoas possam ter medo de falar connosco”, continuou, garantindo anonimato a quem decidir ajudar as autoridades.
McKee era uma jornalista em ascensão e já altamente premiada, tendo começado a trabalhar com apenas 14 anos. Dedicou parte da sua carreira, e ficou famosa por isso, a contar histórias sobre as consequências dos Troubles, nome dado ao conflito sectário na Irlanda do Norte, o que só causou maior indignação na sociedade irlandesa aquando da sua morte. Em 2019, pelo menos 49 jornalistas foram mortos, segundo os Repórteres Sem Fronteiras – um número historicamente baixo.