Vai ser um fim de semana quente no escutismo português. Está marcada para este sábado a tomada de posse de órgãos nacionais, mas nos últimos dias veio a público algum mal-estar interno. Ivo Faria, reeleito como chefe nacional do Corpo Nacional de Escutas (CNE), é consultor da PriceWaterhouseCoopers (PWC) e no final de janeiro o seu nome foi associado ao caso Luanda Leaks. O Expresso revelou que o consultor foi contratado para a empresa por Mário Leite Silva, que viria a ser gestor dos negócios de Isabel dos Santos e a ponte entre a empresária e a consultora, mantendo-se Faria como um dos elos em diferentes operações, nomeadamente no projeto de restruturação da Efacec, pago pela empresa Wise, de Isabel dos Santos, sediada em Malta.
A ligação do nome do chefe nacional do CNE ao caso Luanda Leaks agitou os dirigentes do movimento, preocupados que possa de alguma forma prejudicar a associação. Esta semana, o jornal digital 7Margens expôs o mal-estar interno, havendo elementos que defendem que Ivo Faria não devia tomar posse, entre os quais o ex-chefe regional de Lisboa, João Carvalhosa. Segundo a mesma publicação, o facto de o conselho nacional plenário onde ocorrerá a tomada de posse ter sido marcado para Balazar, num fim de semana em que muitos agrupamentos estão em campo – férias de Carnaval – e que terá por isso previsivelmente menos participação, foi encarado por alguns como uma tentativa de desmobilizar.
Ivo Faria garantiu ao 7Margens que dará explicações sobre o tema na reunião. Ao que o SOL apurou, as opiniões dentro da associação dividem-se sobre o que seria o melhor passo. Cabe a Ivo Faria decidir se toma ou não posse, sendo que poderia também ser apresentada uma deliberação em ordem de trabalhos para que o assunto fosse colocado ao conselho. Uma situação sempre sensível numa altura em que ainda não conhecem detalhes sobre as investigações em curso em Portugal e em Angola.
Além da junta central, liderada por Ivo Faria, este sábado tomam posse os membros eleitos para o Conselho Fiscal e Jurisdicional Nacional. À frente deste órgão mantêm-se António Cerqueira e António Ventinhas, um rosto conhecido por ser presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público. Questionado pelo SOL sobre esta situação na associação, António Ventinhas declinou fazer qualquer comentário nesta fase. Segundo o SOL apurou, o facto de Ventinhas ir tomar posse ao mesmo tempo que Ivo Faria, agora associado ao Luanda Leaks, está também a levantar dúvidas na esfera judicial.
A junta central e o conselho fiscal são órgãos separados e independentes, mas cabe ao segundo a fiscalização e disciplina no movimento. Mesmo que Ivo Faria decida pela não tomada de posse, os restantes dirigentes nacionais poderão fazê-lo. Segundo o SOL apurou, parte das críticas à tomada de posse de Ivo Faria vêm de uma rivalidade antiga de uma lista de Lisboa que não foi eleita em 2016, quando Ivo Faria conseguiu o primeiro mandato. Mas a preocupação de que o caso contagie o CNE tem estado a alastrar.