A aplicação WhatsApp está em quase todos os telemóveis e trouxe muitas vantagens à comunicação à distância. O envio fácil, rápido e gratuito de fotografias, vídeos e documentos, bem como a possibilidade de contactar com mais do que uma pessoa em simultâneo, de forma escrita ou falada, mesmo entre extremos opostos do planeta, mantém as pessoas mais próximas e com grande facilidade de partilha.
Mas como em quase tudo, o revés da medalha está à espreita.
É sabido que as pessoas em grupo se comportam de forma diferente do que fazem em privado e que existem até vários fenómenos característicos deste funcionamento. Ao mesmo tempo sabemos também como é tão mais fácil dizer certas coisas atrás de um telemóvel do que pessoalmente. Estas são duas variáveis que podem tornar-se explosivas no uso desta aplicação. Se a tudo isto acrescentarmos o facto de muitos utilizadores serem pré-adolescentes ou adolescentes, pode estar mesmo aberta uma porta para situações muito desagradáveis.
Jovens destas idades muitas vezes ainda não têm maturidade para manter conversas com algum nível de sensatez. Há aqueles que se expõem demasiado, que confiam no outro, não tendo noção que desde o momento em que sai do seu telemóvel toda a informação pode ficar disponível para qualquer pessoa. Se tiver o azar de ter do outro lado alguém menos correto, pode ficar numa situação de vulnerabilidade ou mesmo de humilhação, em que vê informações privadas serem partilhadas com pessoas que não conhece. Isto acontece muitas vezes em escolas e pode ter efeitos muito perigosos. Por outro lado, a criação dos grupos e a sua gestão faz lembrar a mão de uma entidade toda-poderosa: ‘Hoje foste o escolhido, dou-te permissão para entrar no meu grupo exclusivíssimo’. No dia seguinte, de acordo com o humor, da mesma forma que foi convidado a entrar, o desgraçado é escorraçado, expulso do grupo à frente de todos. Outros grupos são feitos propositadamente deixando alguns elementos de fora para se falar mal deles. Outras vezes ‘humilham’ – palavra que não é por acaso que está na moda entre os mais novos – alguém que está presente no grupo e massacram-no até à última. Tudo isto para além do tempo mal gasto que passam a ler centenas de mensagens que caem torrencialmente todos os dias, a ver dezenas de vídeos e fotografias muitas vezes sem interesse e do chorrilho de asneiras e de banalidades.
Alguém estar sossegado em casa, abrir a aplicação e ser sujeito a rixas destas, é uma invasão muito grande da sua vida e pode ser extremamente complicado sobretudo para jovens mais sensíveis e vulneráveis. Tudo isto é absolutamente doentio.
E não é só entre os mais novos que estes grupos podem atingir proporções assustadoras. O que dizer dos grupos de mães – que muitas vezes nem se conhecem e nada têm em comum além de os seus filhos partilharem a mesma turma – que se engalfinham entre elas, geram mal entendidos, criticam os filhos das outras ou se juntam para falar mal da escola ou dos professores empolgando por vezes acontecimentos inocentes que passam a atingir proporções de cabo de esquadra?
Muito cuidado com o WhatsApp e com o que daí advém. Sobretudo com os grupos e com a partilha de informações íntimas e pessoais.