A vida de um político não deve ser fácil. Contrariamente à opinião pública inflamada por um qualquer acontecimento recente, acho que trabalhar para o estado deve ser tudo menos tranquilo. Exige uma enorme preparação, determinação e resiliência. Além das competências técnicas, um político é um gestor de imagem, que sabe que é avaliado muito mais pelo que parece ser do que pelo que é, ou pelo trabalho que desempenha. No que toca a imagem, André Ventura é o melhor político do país.
Este texto não é uma análise política, mas da capacidade de um político, a meu ver competente, de trabalhar o seu marketing. E que está apenas a começar.
Umas das tarefas essenciais para a construção de uma marca é definir o seu posicionamento, ou seja, a forma como a marca deve ser percebida pelas pessoas. Não é fácil de construir e raramente é possível mudar. Naturalmente, o posicionamento é um dos conceitos mais debatidos no universo da comunicação. Numa versão muito simplista, o posicionamento deve entregar uma proposta diferenciadora, competitiva e relevante.
Afirmar que André Ventura é um político diferente dos outros, nomeadamente dos seus pares deputados, é tudo menos polémico. Ele não fala como os outros, tem um estilo e conteúdo próprios, marca a diferença. Assume posições polémicas que dá a conhecer através de um discurso forte, agressivo e extremamente simples. Ao contrário do que faz a generalidade dos deputados, às vezes até nos temas mais fraturantes.
Definir a proposta de André Ventura pela sua competitividade é uma questão muito mais pessoal, cada um sabe no que se revê e quais as figuras que melhor o transmitem. Se tem ideias e posições melhores ou piores do que as de outros compete aos cidadãos julgar, mas à data e atendendo à sua crescente popularidade, é difícil não acreditar no aumento do seu número de apoiantes.
E, naturalmente, André Ventura é relevante para as pessoas. E não só pelas suas ideias políticas. André Ventura representa a contestação sem compromisso, valoriza-se enquanto voz incómoda, espalhafatosa, ocupando o papel que a elite feminina do bloco de esquerda em tempos desempenhou, mas que perdeu o efeito novidade e está agora muito mais moderado.
Nenhum partido e muito menos um deputado isolado tem o protagonismo de André Ventura. E esta é tanto a sua força como, porventura, uma das suas principais fraquezas. André Ventura está sozinho, não tem uma máquina partidária, em boa verdade nem sequer um partido com estrutura, que suporte as suas posições e intenções. Mas, talvez por isso, tenha percebido a importância de não poder ser mais um.
Concorde-se ou não com as suas posições, acho precipitado falar em ideologias. André Ventura tem o dom da palavra e um sentido de oportunidade que mais nenhum político tem. Nem sequer o presidente Marcelo Rebelo de Sousa com a sua omnipresença. É raro Ventura falar, seja em que contexto for, sem gerar conversa nas redes sociais e opiniões dos comentadores da nação. Então quando fala do Benfica…
Ventura também sabe que as boas notícias e as falinhas mansas têm pouco tempo de antena e que, para ser considerado, tem de ser polémico e por vezes corrosivo. Faz parte de um jogo que ele não inventou, mas que estudou muito bem as regras e hoje o joga com mestria.
André Ventura recorda-me um caso de estudo do Real Madrid, em que se questionava qual a marca mais valiosa, se a do clube ou a dos galácticos. A análise não era fácil, apesar de hoje em dia a resposta parecer óbvia. Mas no caso de André Ventura, o cenário é bem diferente. Se o partido se chama Chega ou outra coisa qualquer dentro da mesma linha pouca diferença faz, desde que se mantenha o protagonista. Muito provavelmente o fim do Chega, pelo menos do atual posicionamento da marca, chegará se o partido alcançar uma das suas almejadas metas, ganhar maior representatividade. Porque o Chega é discurso de uma pessoa só, que não pode ser substituída e que perderá muita força quando tiver de dividir o protagonismo. Até porque nessa altura já não basta dizer Chega, a questão da ideologia tornar-se-á mais relevante, além de que a capacidade de atrair votos para um partido é bem diferente da de atrair dirigentes sérios e competentes.
Porém, André Ventura é o político com melhor nota na cadeira de marketing o que não é um elogio à sua política, mas à sua competência profissional. Construiu uma grande marca. Sobre as ideias que defende, cada um fará a sua análise e decidirá em consciência. Eu continuo a ser do Sporting.