Residentes das ilhas gregas fizeram greve pelo segundo dia consecutivo esta quinta-feira, reforçando os protestos (que ocorrem desde terça-feira) contra os planos do Governo para construir novos campos de refugiados em cinco ilhas no leste do mar Egeu. Tem havido confrontos violentos entre a polícia e os manifestantes e a crise adensa-se, enquanto o Governo foi obrigado a retirar a maior parte da polícia antimotim destacada para proteger os terrenos onde vão ser construídos novos centros e controlar a situação.
Até ontem, mais de 60 pessoas – polícias inclusive – foram feridas por causa dos desacatos nas ilhas de Lesbos e Chios, avança a BBC. Em Lesbos, vários manifestantes atiraram pedras às autoridades, em três sítios diferentes – onde está prevista a construção de novos centros de refugiados. Num desses terrenos, marcado para a construção de uma nova instalação, estavam cerca de mil pessoas, segundo as autoridades, a arremessar pedras contra a polícia.
Na quarta-feira à noite, 52 polícias e dez manifestantes ficaram feridos em Lesbos e Chios, relata o jornal grego Ekathimerini – o New York Times refere que as autoridades alegam que dois agentes têm ferimentos de bala. Em Chios, cerca de duas mil pessoas saíram à rua em protesto.
A tensão devido à receção de requerentes de asilo nas ilhas gregas tem vindo a crescer nos últimos tempos, muito porque os campos de refugiados se encontram extremamente sobrelotados. A título de exemplo, o campo de Moria, Lesbos, tem capacidade para 2840 pessoas, mas alberga de momento quase 20 mil requerentes de asilo, segundo o Governo grego. Já o campo da ilha de Samos tem capacidade para 700 pessoas, acolhendo, no entanto, cerca de 7200 migrantes.
A crise escalou depois de o Governo conservador de Kyriakos Mitsotakis ter secretamente enviado material de construção para os novos centros e destacado a polícia antimotim para Lesbos e Chios, depois de semanas de negociações com os governos locais e líderes comunitários para o efeito. O Governo já havia anunciado a intenção de construir novas instalações em novembro e, desde então, os protestos têm sido recorrentes – mas nunca com esta intensidade.
Os manifestantes defendem que os campos existentes se tornaram uma prisão tanto para os residentes como para os requerentes de asilo e que a construção de novos irá apenas ampliar o problema, diz o Ekathimerini. Já o Governo argumenta que a construção de instalações mais seguras de receção de migrantes (isto é, fechadas) é estritamente necessária, pois a sobrelotação dos campos de refugiados levou à presença de centenas de tendas próximo dos campos.
Além disso, o Governo quer reduzir em metade a população migrante a viver neste momento nas ilhas, mas não está a ser bem-sucedido. “Não há plano alternativo, é o único que temos”, disse à Skai TV o porta-voz do Executivo, Stelios Petsas, acrescentando que tudo foi feito para “aumentar o número de retornos”. “O nosso plano é criar campos fechados e depois lidarmos com a sobrelotação”.
Mitsotakis chegou ao poder na Grécia com a promessa de que iria ter uma postura mais agressiva em relação à migração do que o seu antecessor, Alexis Tsipras, agora líder da oposição. Samos, Chios, Lesbos, Kos e Leros são as portas de entrada na Europa dos refugiados que fogem da guerra e da fome – todas as cinco ilhas ficam perto da costa da Turquia, rota utilizada por centenas de milhares de migrantes nos últimos anos.